Ricardo Castanheira
O que é que a amora, o mirtilo e a framboesa têm que ver com inovação, biorefinaria, giesta e regionalização?.. Aparentemente nada, mas a meu ver tudo!
Por estes dias passeando num dos muitos mercados de rua, em Bruxelas (sim, há vários e a ideia com forte apelo turístico deveria replicar-se em Portugal), dei-me conta que os frutos vermelhos à venda eram produzidos no nosso Alentejo. Fui indagar e fiquei a saber que somos uma referência produtiva nesta área e que já exportamos quase 100 milhões de euros anuais.
Repito, o nosso Alentejo – o tal envelhecido, desertificado e esquecido – tem condições singulares para neste domínio exportar e abastecer mercados europeus.
Como a curiosidade é atrevida, constatei, então, que o complexo agroflorestal, (agricultura, silvicultura e indústrias alimentares e florestais) gera já 5,7% do VAB e 14,7% do emprego total da economia. Mais, as atividades do complexo agroflorestal já representam atualmente 14,1% dos valores das nossas exportações.
Ou seja, quando se fala tanto (e bem) de turismo é justo e oportuno que se reconheça o papel, menos “sexy” é certo mas cada vez mais relevante, que o setor agroflorestal desempenha na economia nacional.
Ora, e aqui entra outra excelente notícia. Neste fim de semana, o Primeiro-Ministro inaugurou, também no tal postergado interior centro do país (Oliveira do Hospital), o arrojado Campus de Tecnologia e Inovação da BLC3 e tomou contato com o relevantíssimo projeto da bio-refinaria que valoriza os matos incultos (a giesta por exemplo) no processo de produção de substitutos do petróleo, gerando assim novas fontes alternativas de energia limpa e atacando uma das principais causas dos incêndios florestais.
Tenacidade, coragem e arrojo inovador tornaram possível este projeto onde tantos sucumbiram ao suposto fatalismo da interioridade.
Estes são apenas dois exemplos do muito que, com certeza, já estará a ser feito e do mais que ainda há por fazer para aproveitar o potencial natural de regiões mais desfavorecidas do país, usando para tanto tecnologia, uma nova geração preparada para o risco e com visão internacional.
É esta a regionalização necessária – a dos clusters económicos – e não aquela que alguns pretendem ressuscitar (finada que foi no Referendo de ( 1998 ) com base na mera deslocação de serviços e organismos públicos, que nada gera de novo, não inova e ainda aumenta a despesa pública!