A apanha da amêndoa já começou e, este ano, prevê-se que a produção caia cerca de 50%, no nordeste transmontano, segundo adiantaram, hoje, à Lusa, vários agricultores de Alfândega da Fé e Vila Flor.
A muita chuva no inverno, que se prolongou até à primavera, e ainda as vagas de calor, durante semanas, terão levado a uma campanha desastrosa nestes concelhos. A juntar a isso, alguns produtores ficaram sem hectares de amendoal, devido ao incêndio de 18 e 19 de agosto, que afetou os concelhos de Mirandela, Vila Flor e Alfândega da Fé.
Joana Araújo foi uma das agricultoras afetadas, em Alfândega da Fé. Tem cerca de 25 hectares de amendoal, mas dois foram consumidos pelas chamas. “Seria sempre uma campanha com poucas quantidades, já sabíamos que a colheita ia ser pequena em relação a outros anos, mas o incêndio veio piorar”, lamentou, explicando que a chuva “até muito tarde prejudicou a floração e germinação do fruto”.
Num ano de boa produção, conseguiriam recolher “10 toneladas” de amêndoa, mas nesta campanha prevê que nem cinco toneladas conseguirá colher, devido aos dois hectares de amendoal que arderam. “Vai ser uma quebra bastante grande”, afirmou.
A Amendouro é uma unidade de transformação de amêndoa em Alfândega da Fé. Ali recebem o fruto, britam-no, tiram-lhe a pele e ainda fazem farinha. Num ano “médio”, o proprietário da fábrica, Carlos Araújo, avançou, à Lusa, que conseguem “agregar cinco milhões de quilos” de amêndoa. Mas, uma vez que se trata de um “ano atípico”, prevê uma quebra para metade destes valores.
O empresário está em crer que a qualidade será “razoável”, mas, ainda assim, será “superior” à campanha anterior, com o fruto “muito mais são”, verificando também uma “melhoria” no calibre. “A qualidade é superior, apesar da quebra”, disse.
Em Vila Flor, terra das amendoeiras em flor, o cenário também não é positivo, numa campanha que se diz ser “difícil”. Christophe Monteiro fala de quebras, no seu amendoal, também a rondar os 50%. O produtor sublinhou que a perda é “bastante” e que, este ano, não sabe se conseguirá chegar às seis toneladas de fruto colhido.
A principal causa: “o clima”. “As amendoeiras estavam a ter uma floração muito boa, estavam mesmo bonitas, previa-se um ano muito bom, como há muitos anos não havia, mas, este ano, foi bastante chuvoso e prolongou-se pela Primavera e acabou por estragar a floração do amendoal. A amendoeira não limpou bem e o facto de estar sempre a chover fez com que 60 a 70% se perdesse em cada árvore”, explicou.
O agricultor tem ainda uma unidade de transformação, a Quinta do Pombal, e, por isso, compra também o fruto a outros produtores do concelho e garante que o problema é generalizado. “Os pequenos agricultores são os que sentem mais. Eu tive senhores que colhiam à volta de quatro ou cinco toneladas, este ano colhem à volta dos mil quilos (uma tonelada)”, referiu.
Além da baixa produção, também se queixa da qualidade do fruto, contrariamente a outras zonas da região, devido “às vagas de calor”. “Se tivermos quatro ou cinco semanas com temperaturas acima dos 40 graus, faz com que o pouco que a árvore vá tendo, tenha fraca qualidade”, explicou.
Por outro lado, as quebras trazem um sinal de esperança para os produtores, uma vez que o preço da amêndoa subiu entre “20 a 25%”.
“Para o agricultor é bom, porque tem havido anos que não saia beneficiado pelo preço praticado”, referiu Christophe Monteiro.
No entanto, o produtor e também empresário admite que para o negócio da transformação será “difícil”, porque compra a amêndoa a um preço mais alto, mas não consegue aumentar o valor do seu produto transformado. “Acaba por ser complicado, porque temos concorrência do exterior, como Califórnia, a um preço que não conseguimos competir”, acrescentou.
As alterações climáticas provocaram ainda um atraso no desenvolvimento da amêndoa. Por norma, a apanha arranca no início de setembro, mas este ano a começou duas semanas mais tarde.