Em 2025, até 15 de julho, tinham ardido 10 768 hectares, mas só nas últimas semanas terão ardido mais 50 000 hectares. Verificaram-se ainda vários incêndios de grandes dimensões, com áreas ardidas superiores a 100 hectares, em Arouca, Penamacor e no Parque Nacional da Peneda-Gerês. Estes incêndios, além de afetarem comunidades locais, causam perdas irreparáveis a ecossistemas sensíveis, comprometendo a biodiversidade, a qualidade do solo e o ciclo da água.
Perante esta realidade, é necessário realizar uma mudança profunda na forma como se gere o território e a floresta em Portugal. O GEOTA defende um modelo de gestão florestal com espécies autóctones, ecologicamente adaptadas ao território, como o carvalho, sobreiro, medronheiro, castanheiro, pinheiro-bravo e outras espécies nativas. Esta opção permite restaurar a biodiversidade, conservar o solo, regular os ciclos hídricos e aumentar a resiliência às alterações climáticas, ao mesmo tempo que reduz o risco estrutural de incêndio.
Essa transformação, no entanto, só é eficaz se for feita com o envolvimento das pessoas. O GEOTA tem vindo a trabalhar lado a lado com proprietários, comunidades locais e instituições públicas, assumindo que mudar a paisagem é, acima de tudo, um processo social: ouvir quem vive nos territórios, perceber as suas necessidades e integrar o conhecimento local no planeamento das ações.
“Estamos diariamente a apoiar as comunidades afetadas e a recuperar o valor ecológico e económico das paisagens que foram devastadas pelos incêndios. Nesse sentido, a transformação da paisagem tem de ser vista sobretudo como uma transformação social que encaixe no contexto sociocultural específico de cada território. Trabalhamos com foco no restauro ambiental, mas é um trabalho sobre as pessoas.” — Miguel Jerónimo, coordenador dos projetos Renature.
Os territórios afetados pelos incêndios enfrentam uma degradação acelerada dos solos e dos ecossistemas e o impacto das alterações climáticas, fatores agravados pela ausência de gestão ativa da paisagem.
“Na serra de Monchique, temos vindo a observar sinais claros de desertificação nas zonas de menor altitude, especialmente em áreas com solos xistosos. As alterações climáticas estão a modificar as condições ecológicas da serra, forçando algumas espécies autóctones a procurar outros locais para sobreviver. O sobreiro e o medronheiro tendem agora a estabelecer-se em altitudes mais elevadas e o castanheiro em encostas mais húmidas. Esta mudança torna ainda mais crucial a fase de planeamento, sobretudo na escolha adequada das espécies, nas técnicas de preparação do solo e na calendarização das intervenções no terreno.” — Miguel Jerónimo, coordenador dos projetos Renature.
É com este princípio que os projetos Renature, dinamizados pelo GEOTA, estão a intervir na serra de Monchique, serra da Estrela e no Pinhal de Leiria. Estes projetos seguem uma metodologia estruturada e replicável, assente no envolvimento direto de proprietários e comunidades locais, na reflorestação com espécies autóctones, na atuação de equipas técnicas especializadas e no recurso a materiais contratados localmente. Contam ainda com parcerias com instituições públicas e são financiados por investimento privado. Até ao momento, os três projetos em curso totalizam mais de 1,8 milhões de árvores plantadas, cerca de 3.000 hectares intervencionados e a participação ativa de mais de 700 proprietários e comunidades.
“Sem o apoio do GEOTA não teria possibilidade de replantar este terreno. Antes do incêndio de 2018 o terreno era ocupado por eucalipto e algum medronheiro. Agora foi possível replantar esta área apenas com espécies autóctones, medronheiros e sobreiros” — José Nascimento, proprietário na serra de Monchique apoiado pelo GEOTA.
O trabalho do GEOTA nestes projetos demonstra que a boa gestão florestal é possível, mesmo em territórios profundamente marcados por incêndios, abandono e fragmentação de propriedades. Através da cooperação entre proprietários, acesso a apoio técnico e reforço da literacia ambiental, é possível reverter décadas de degradação e vulnerabilidade.
“Este projeto tem um valor enorme para nós. A comunidade de Cortes do Meio está profundamente grata e orgulhosa pelo trabalho que aqui tem sido feito na serra da Estrela e estamos comprometidos em dar continuidade ao projeto que iniciámos em conjunto com o GEOTA.” — Nuno Lourenço, representante da Junta de Freguesia de Cortes do Meio e Comunidade Local do Baldio da Freguesia de Cortes do Meio na serra da Estrela.