O jovem macho de urso-pardo oriundo da Cordilheira Cantábrica, que passeou pelas Terras Frias Transmontanas entre finais de abril e meados da semana passada, já deve ter regressado “a casa”. Os técnicos do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) “deixaram de encontrar vestígios da sua presença”, indica ao Expresso Armando Loureiro, diretor do Departamento de Conservação da Natureza e Florestas do Norte.
A presença deste exemplar de urso-pardo no Parque Natural de Montesinho “não foi inesperada”, uma vez que é natural que os machos mais jovens dispersem quando as sub-populações da Cordilheira Cantábrica ficam mais densas”, explica Armando Loureiro. Mas também não se estranha que este exemplar de grande carnívoro europeu não tenha ficado por cá muito tempo. “Há uma década ou mais que se registam aproximações destes animais cada vez mais frequentes ao Nordeste Transmontano e mesmo que este urso volte ao seu local de origem, pode regressar a Montesinho”, indica. Mas lembra que, também “pode estar nalgum sítio onde ainda não foi localizado”, já que o Parque Natural de Montesinho estende-se por cerca de 100 mil hectares.
A ideia já tinha sido transmitida ao Expresso por Francisco Álvares, investigador do CIBIO. Segundo o representante do grupo de especialistas da IUCN — Large Carnivore Initiative for Europe, “tratando-se de um animal dispersante, muito provavelmente vai voltar à sua população de origem onde tem mais oportunidades de se reproduzir”.
O jovem urso terá percorrido cerca de 400 quilómetros até ao Parque Natural de Montesinho, no concelho de Bragança. Num apiário para os lados de Vilarinho deixou vestígios da sua presença, não só pelas pegadas, como pelas colmeias que destruiu em busca de larvas de abelha e de mel.
Foi a primeira vez em 176 anos que um exemplar do grande omnívoro voltou a aparecer em território português. A última vez que um urso fora avistado por cá data de 1843, na Serra do Gerês, mas acabou por ser abatido a tiro. O conflito com o homem e a alteração de habitat ditaram a sua extinção em Portugal.
A incursão deste animal em terras transmontanas levou o ICNF a reforçar o trabalho de sensibilização junto da população, para que esta saiba conviver com os vizinhos da floresta, tal como tem feito em relação ao lobo. As autoridades ambientais espanholas têm feito esse trabalho do lado de lá da fronteira nos últimos 20 anos, o que permitiu recuperar a espécie de Ursus arctos, declarada “em perigo de extinção”, em 1989. Mas a espécie está em recuperação e as subpopulações da Cordilheira Cantábrica somam perto de 300 exemplares.