Crescemos a escutar que a Humanidade caminhava para a igualdade e que a globalização e as novas tecnologias tendiam a acelerar esse ajustamento. Contudo, podemos estar a promover as sociedades mais desiguais da História. Embora a globalização e a Internet reduzam o fosso entre os países, elas ameaçam expandir o hiato entre as classes. Na etapa em que tudo parece global, a espécie em si pode dividir-se em várias castas biológicas.
Nos primeiros anos do século XXI, as pessoas esperavam que o processo igualitário continuasse e até acelerasse. A difusão acalorada do conceito de environment, social and governance (ESG) sugeria uma mudança na defesa do futuro. Em particular, esperavam que a globalização espalhasse uma prosperidade económica responsável e responsabilizável pelo mundo. Escutamos este princípio. Mas, parece que a promessa ainda vai ter o seu caminho. Cenarizam-se novas questões. E leituras. Para destacar o papel dos agricultores na importância para a vida Humana, importa destacar as simetrias das relações entre as dimensões económicas, sociais e ambiental que representam. E como as valorizamos? E como as promovemos?
De acordo com um trabalho que fiz recentemente, a produtividade deste setor encontra-se abaixo de muitos setores da economia nacional, sendo que a principal razão passa pela maioria dos serviços do ecossistema que os agricultores prestam estarem longe de serem remunerados pelo mercado: os seus produtos são vendidos abaixo do seu valor intrínseco.
Os Agricultores têm uma importância fundamental para a vida humana na produção dos alimentos saudáveis de forma sustentável para o ambiente e que cheguem à prateleira do supermercado com a qualidade desejada pelo consumidor e a preços competitivos.
Este conjunto de requisitos é muito difícil ser garantido, sobretudo numa Europa Verde que pretende ser sustentável em contradição com outros países em que os mesmos requisitos não são garantidos, mas que os mesmos produtos competem na prateleira pelo mesmo consumidor.
A principal questão será como poderá ser possível garantir os acordos de neutralidade carbónica em 2050, a conservação da biodiversidade, ter as garantias sociais, a mão de obra necessária, o equilíbrio migratório e ter uma Europa competitiva e com crescimento sustentável no contexto mundial dos nossos dias? Na realidade os agricultores estão a desempenhar um conjunto de serviços para os ecossistemas que estão longe de serem remunerados pelo valor/qualidade exigido sem a remuneração adequada.
E como se comparam coisas diferentes com denominações iguais?
A política agrícola comum, ainda não consegue compensar de uma forma justa, completa, equitativa a remuneração dos serviços do ecossistema, estando ainda os consumidores longe de terem vontade de os pagar.
Paradoxalmente a nova administração americana pode ser uma aliada na explicitação do que diferencia “o querer versus o poder” fazer: e quem ganha o futuro? O caminho da sustentabilidade começa a ser feito na velha Europa, com alguns solavancos e pouca representatividade a nível mundial. Algumas empresas começam a interiorizar o benefício da sustentabilidade na sua resiliência para o futuro, tendo incorporado os princípios de forma natural em toda a organização.
Mas como remuneram o valor do respeito pelo futuro?
Para além deste papel fundamental na alimentação humana, os agricultores gerem a maior parte do território, representando nalgumas regiões a maior taxa de emprego setorial da região, garantindo a presença, sem a qual as externalidades negativas seriam muito maiores como se pode verificar pelos incêndios nalgumas regiões desertificadas. E asseguram as reservas estratégicas da produção alimentar.
Existem florestas de muitos proprietários em que os agricultores poderão desempenhar um papel muito importante na sua gestão, em parceria com estruturas profissionalizadas e os proprietários. Os agricultores deviam ter apoios práticos e objetivos, que incorporem de forma explicita apoios florestais na exploração agrícola, para gestão integrada da região que visem a cadeia de valor integrada das explorações agrícolas, florestais e industriais. São os agricultores que estão no terreno, não são os proprietários florestais. Esta situação é muito relevante nas zonas vulneráveis contra incêndios.
As questões geracionais na agricultura são importantes, sobretudo nas regiões Norte e Centro do País onde as explorações agrícolas são geridas por produtores singulares envelhecidos, com baixo nível de escolaridade. Isto sugere que a retenção e instalação de jovens agricultores é baixa e pouco eficaz. Os projetos são analisados na ótica económica e não financeira, levando muitos jovens, sobretudo quando se instalam em regime de exclusividade e com base em culturas permanentes a ficar em situações financeiras muito complicadas. As políticas de investimento deviam ser regionalizadas, assim como os padrões utilizados nas análises técnicas.
Neste momento, existem, contudo, novas tecnologias e inovações que já permitem atrair jovens com maior nível educacional para a agricultura sem obrigar aos sacríficos que antigamente eram exigidos, mas esta tendência ainda é insuficiente, sobretudo nas regiões Norte e Centro.
A nível mundial os desequilíbrios populacionais são enormes, visualizando-se a necessidade de promover a mobilidade com a captação de população, por exemplo, de países de língua oficial portuguesa. E um programa articulado com as velhas escolas agrícolas portuguesas podem merecer particular atenção para a formação coerente e útil nestes países considerados irmãos. A conservação da biodiversidade é uma preocupação, assim como a preservação dos recursos que terá de ser garantida em simultâneo com os desafios de novas necessidades de recursos para alimentar a população crescente do planeta.
O futuro sempre padeceu de bons defensores. E o início deste mês de março de 2025, a nível global, sugere muitas e disruptivas novidades.
As novas tendências de sustentabilidade que são fundamentais para garantir o equilíbrio de recursos naturais para o futuro estão a ser postas à prova em muitos países por algumas pessoas: os novos donos disto tudo.
Manuela Nina Jorge
Presidente da Agrimútuo – Federação de Estruturas Financeiras Cooperativas
*Conteudo Patrocinado
Fonte: Agrimútuo