Algum tempo depois de jantar, como é habitual, fui “dar a volta ao gado”, isto é, ver se estava tudo bem, incluindo a vaca em fim de gestação que tínhamos colocado de manhã na maternidade. Por sorte, mesmo antes de ir dormir, vim ao exterior da casa e pareceu-me ouvir uma vaca a berrar da forma aflita que fazem quando estão a parir. Fui ver e estava de facto em trabalho de parto, já com uma pata do vitelo à vista. Equipei-me, calcei as luvas obstétricas (que vem até ao ombro) e meti a mão para observar. A pata do vitelo que não se via estava dobrada no “cotovelo” e foi fácil de puxar para a posição correta. A vaca tinha-se levantado quando me aproximei e assim foi mais fácil ajudar no parto com os forceps e o vitelo, nos segundos que esteve pendurado, deitou fora os líquidos amnióticos que tinha nas vias respiratórias. A vaca veio logo lamber o vitelo e por isso fui descansar e deixei-a cuidar dele. É um macho cruzado de angus, por isso é preto. Foi fácil e correu bem. 70% dos partos aqui em casa não precisam de ajuda, mas neste caso podia correr mal. É a vida.
#carlosnevesagricultor
O artigo foi publicado originalmente em Carlos Neves Agricultor.