Os associados da Horpozim – Associação Empresarial Hortícola sediada na Póvoa de Varzim, estão a fomentar a economia circular da região face ao aumento dos custos de contexto devido à guerra, nomeadamente fertilizantes, disse à Lusa o presidente Manuel Silva.
Elencando que os fertilizantes, produto em que os mercados da Rússia e Ucrânia têm grande preponderância, aumentaram de preço em mais de 300% face ao ano passado, Manuel Silva admitiu que o aumento de um saco de 25 quilos de adubo de 30 para mais de 90 euros faz “pensar muito bem antes de ter que recorrer a uma fertilização química”.
“O que acaba por acontecer é recorrermos mais a matéria orgânica aqui do Vale do Ave, Vale do Cávado, à bacia leiteira que está aqui à nossa volta, que acaba por ser uma fonte de fertilizante”, disse hoje à Lusa.
O presidente da Horpozim referiu que “a recolha das algas aqui da praia, o sargaço”, também acaba por ser incorporado na produção hortícola da região do Litoral Norte.
“Nesse aspeto, nós damos uso e pomos em funcionamento o mercado da economia circular”, disse à Lusa.
Questionado acerca do futuro próximo, Manuel Silva perspetivou ser “muito preocupante”, apesar de não ter “uma bola de cristal”, mas observou que os agricultores têm tentado “fazer culturas que sejam mais baratas”.
“Algumas culturas em que a semente seja de casa e em que não estejam dependentes de fatores de produção externos, como têm sido, por exemplo, no caso da cebola, penca, feijão verde”, produtos em que “tem aumentado a área de produção”.
Em sentido contrário, deverão diminuir “culturas com maior investimento e mais necessidade de adubação e tratamentos fitofármacos, nomeadamente a cultura do tomate”, cuja área de produção deverá reduzir-se.
Para tal, explicou, também contribui a diminuição das exportações, que foi alvo de um forte impacto depois do início da pandemia de covid-19, já que depois do fecho de fronteiras, em março de 2020, o mercado exportador “praticamente nunca mais existiu”.
Atualmente, o mercado nacional também é alvo de contestação por parte destes produtores, já que consideram “que afinal é o próprio país que não está a perceber o valor estratégico para aquilo que é a nossa autonomia alimentar, ao estar a ser abandonado em troca de outros interesses que não a produção nacional”.
Manuel Silva crê que existe algum “aproveitamento” por parte das grandes superfícies, já que se observam “tomates a ser vendidos a três euros ou dois euros e meio” através de importação, quando o produto local, “se estiver no mercado, desce para menos de um euro”.
Os consumidores “até pensarão que no outro extremo da cadeia de valor o agricultor estará a ser mais bem pago, o que não é verdade”, referiu.
Segundo as contas de Manuel Silva, “aquilo que é pago à produção é apenas 10% do preço final de venda”, com todos os custos de contexto – como a energia, o combustível, a cadeia de frio – a serem imputados “ao produtor e ao consumidor”.
Nesse sentido, a associação reclama que “não tem havido ajudas diretas ao rendimento do setor”, sobretudo alicerçado no minifúndio e em empresas familiares, cujos agregados “dependem da atividade e viram o seu rendimento desaparecer”, e inclusive já houve casos “em que pelo menos um dos elementos acabou por se desempregar”.
“O agricultor, neste momento, aquilo que colhe não é para ganhar dinheiro, mas apenas para se capitalizar e fazer face às suas despesas do quotidiano”, disse.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.480 civis, incluindo 165 crianças, e feriu 2.195, entre os quais 266 menores, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.