A Trafigura, um dos maiores ‘players’ mundiais no comércio de matérias-primas, incluindo hidrocarbonetos, vai colaborar com Moçambique para desenvolver projetos de restauração florestal em larga escala, conforme acordo assinado em Baku, à margem da COP29.
Em causa está o Projeto Regional de Restauração da Floresta do Miombo, no âmbito da Implementação da Declaração de Maputo sobre o Maneio Sustentável e Integrado deste ecossistema florestal com cerca de 300 milhões de habitantes, em África, segundo informação do Ministério da Terra e do Ambiente enviada hoje à agência Lusa.
À margem da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2024 (COP29), que decorre na capital do Azerbaijão, o embaixador e chefe da delegação de Moçambique na cimeira, Alfredo Nuvunga, e a representante da Trafigura, Hannah Hauman, rubricaram um memorando de entendimento “em que as partes comprometem-se a desenvolver projetos de restauração florestal em larga escala”.
“O objetivo é produzir créditos de carbono para a sua comercialização no mercado voluntário (…). Para além de Moçambique, a República do Congo, representada pela ministra do Ambiente, também assinou o mesmo tipo de memorando com a Trafigura. A Tanzânia, Zâmbia e Zimbábue, estão numa fase conclusiva de análise dos memorandos que poderão ser assinados em breve”, refere-se na mesma informação.
Moçambique, que lidera a iniciativa regional do Miombo, assumiu como compromisso “continuar a coordenar a integração política dos Estados-membros, fornecer informação atualizada sobre os níveis de emissão de carbono florestal e sobre os programas de conservação e maneio florestal em curso no país”.
“A Trafigura vai continuar a mobilizar financiamento, prestar assistência técnica para a geração de projetos, desenvolvimento de carbono, aquisição e sua comercialização no mercado, garantindo que os esforços de restauração alcancem resultados positivos ambientais, climáticos e comunitários”, acrescenta o Governo moçambicano.
A desflorestação em Moçambique afetou 875.453 hectares em quatro anos, apesar de ter recuado durante 2022, atingindo sobretudo as províncias de Niassa e da Zambézia.
Uma parte significativa desta desmatação tem vindo a registar-se na floresta do Miombo, que além de Moçambique cobre outros dez países da África austral, incluindo Angola.
Palavra suaíli para ‘brachystegia’, miombo é um género de árvore que inclui um grande número de espécies e uma formação florestal que compõe o maior ecossistema florestal tropical em África, sendo fonte de água, alimento, abrigo, madeira, geração de eletricidade e turismo.
O Presidente moçambicano anunciou em 24 de setembro, em Nova Iorque, a angariação de “mais de 500 milhões de dólares” no diálogo de alto nível sobre a Iniciativa do Miombo.
“Conseguimos convencer o mundo que é preciso proteger o Miombo. Para tal é preciso recursos, mas colocamos, com humildade, que é preciso que a gestão seja com a máxima transparência, porque o Miombo não pertence só a Moçambique”, disse Filipe Nyusi, em declarações aos jornalistas.
O evento juntou dezenas de empresários norte-americanos doadores do projeto e governantes africanos, incluindo os chefes de Estado do Botsuana, Mokgweetsi Masisi, e do Malaui, Lazarus Chakwera.
A Floresta de Miombo cobre dois milhões de quilómetros quadrados e garante a subsistência de mais de 300 milhões de habitantes de 11 países da África austral, incluindo pastagens tropicais e subtropicais, moitas e savanas. Constitui o maior ecossistema de florestas tropicais secas do mundo e enfrenta atualmente, entre outros, problemas de desflorestação.
Segundo o Governo moçambicano, que desenvolveu o plano de ação do projeto, as iniciativas previstas assentam sobretudo no mapeamento e recuperação das áreas mais afetadas pela desflorestação, mas também na fiscalização e no desenvolvimento de projetos de geração de rendimento alternativos à exploração florestal.