Nas últimas semanas os agricultores saíram à rua, protestaram contra as políticas vigentes, reafirmaram a necessidade de valorizar o setor e exigiram condições justas.
O cansaço e desânimo estão bem patentes na vida dos agricultores. Assistimos diariamente ao ataque à vida rural, à sustentabilidade e à soberania alimentar. Somos vítimas de legislação que limita o uso da terra, da água, do ar, somos asfixiados com leis que restringem as liberdades individuais elaboradas por quem está distante dos desafios que os agricultores enfrentam todos os dias. As burocracias a que estamos sujeitos aumentam de dia para dia e a comunicação com os agricultores é tardia e imprecisa.
Os protestos a que assistimos interromperam uma cegueira instalada que desconhece e desvaloriza o papel do agricultor. Com estes protestos que percorreram toda a Europa ninguém ficou indiferente a esta onda de inconformismo e desalento dos agricultores.
Será que conseguiremos imaginar o nosso dia sem o contributo dos agricultores? Já parámos para pensar no seu trabalho de cuidar da terra, plantar, colher e transformar o alimento para torna-lo acessível a todos?
Só temos um planeta e temos que cuidar dele. Aliás não haverá ninguém mais interessado em cuidar da Terra que os agricultores que fazem do campo a sua casa, por isso é fundamental termos uma legislação orientada pela ciência e não por ideologias radicais nem por políticas populistas.
Se é verdade que em Portugal temos agricultores resilientes, determinados e trabalhadores também é verdade que o ministério da agricultura precisa de profundas mudanças. O momento é agora. Está na altura da pasta das florestas voltar a integrar o ministério da agricultura e de se rever a extinção das direções regionais. A proximidade aos agricultores é fundamental e envolvê-los no processo de mudança é o único caminho possível para atenuar o crescente envelhecimento no setor. Dados recentes revelam que na última década a UE perdeu 3 milhões de agricultores e a média de idade é de 57 anos. Na próxima década muitos dos nossos agricultores estarão na reforma e correremos o risco de não ter alimentos portugueses nas prateleiras dos supermercados aumentando assim significativamente a pegada carbónica.
Não sabemos o que o futuro nos reserva mas sabemos que no futuro teremos que ter um ministério da agricultura com maior peso político, comprometido com o desenvolvimento e crescimento do país e com uma estratégia claramente definida.
Dia 10 de Março o país vai escolher o novo governo. Na campanha eleitoral multiplicam-se as promessas, reforçam-se preocupações esquecidas e a agricultura faz parte do discurso dos políticos. Mas estará preparado o próximo primeiro ministro para fazer o que tem que ser feito ou continuaremos nesta inércia de ser politicamente corretos e dar espaço às minorias que se preocupam com o ambiente mas que na hora da compra escolhem o mais barato? Será o próximo governo capaz de desafiar o legislador a ir ao campo para conhecer a realidade e elaborar leis passíveis de serem postas em prática? Iremos definitivamente olhar para a gestão da água como algo estratégico para o desenvolvimento económico do país ou continuaremos a prometer milhões e mais milhões que nunca chegam ao bolso dos agricultores?
Os agricultores só tem um partido, a AGRICULTURA e no dia 10 de março precisamos de um governo capaz de promover e potenciar todos os recursos do país.
Vice–Presidente da APROLEP
A grande distribuição e a grande desvalorização da agricultura – Marisa Costa