O Douro Superior será uma das áreas que mais desafios terá de enfrentar por causa das alterações climáticas
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As projecções, com base em dados estatisticamente relevantes recolhidos ao longo de décadas, indicam que, em 2050, o aumento da temperatura no Douro Superior pode atingir os 3,3 graus Celsius. E as “surpresas negativas” que vêm associadas com as mudanças na temperatura e na precipitação também já se fazem sentir.
Este ano, explicou, durante uma das sessões da conferência Acção Climática – Desafios Estratégicos (uma espécie de apresentação e preparação do Governo para assumir a presidência rotativa do Conselho Europeu, em Janeiro de 2021), essas surpresas chegaram sob duas vertentes: o mês de Julho mais quente e seco de que há registo, e que provocou “uma redução substancial na produção de uva, que caiu 30%” e o “desastre” que assolou a casta touriga franca que, até agora, era vista como uma das mais resilientes às alterações climáticas. “É incompreensível o que aconteceu”, disse o responsável pela empresa do Vinho do Porto, garantindo que o fenómeno vai ser estudado.
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Pouco depois, a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, recuperaria a questão do território, a propósito do caminho que se pretende para a agricultura nacional. “Não nos podemos esquecer que temos de servir as pessoas e os territórios na agricultura. Estamos absolutamente conscientes disto”, disse.
O que quer dizer que a intervenção pensada para o Douro Superior poderá ser diferente para o Alentejo, embora haja aspectos em comum – seja ao nível dos problemas, como salientou o investigador Miguel Bastos Araújo, apresentando algumas projecções para 2080 que dão conta que grande parte do planeta irá assistir a uma redução de produtividade, seja ao nível das soluções, como frisou o engenheiro agrónomo Francisco Avilez, realçando que há que alterar o consumo (nomeadamente, reduzindo o consumo de carne de vaca), tornar mais eficiente a produção agrícola e pecuária e reduzir o desperdício associado à actividade. A água surge como o denominador comum, no topo dos problemas de um futuro em que Portugal terá de viver com temperaturas mais elevadas e menos precipitação, que deverá surgir cada vez mais sob a forma de episódios extremos – pouca e mal distribuída, como já vai acontecendo, resumiu António Filipe.
E isto significará que, no Douro Superior, a rega para a vinha tornar-se-á norma, com as exigências que isto carrega. “Estamos a falar de 100 milhões de hectolitros que serão necessários. De onde é que eles vêm? Teremos de pensar se é possível”, disse o responsável pela Symington.
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