O calendário diz-nos que entrámos no verão. Mas se o solstício de 21 de junho é normalmente encarado com satisfação no Hemisfério Norte, pela chegada do tempo quente, este ano o planeta já foi avisado: com o reaparecimento do fenómeno meteorológico “El Niño”, os próximos anos deverão ser dos mais escaldantes de sempre. Portugal não foge à regra, mas até pode ter um verão mais húmido do que o habitual
Já tinha sido antecipado e agora confirma-se: a circulação de água quente no Oceano Pacífico que dá origem ao fenómeno meteorológico “El Niño” está oficialmente identificada e isso quer dizer que o planeta vai enfrentar uma série de cenários climáticos extremos: prevê-se que se agravem as secas em África, na Austrália e partes da Ásia; as monções serão enfraquecidas na Índia; o sul dos EUA poderá ter mais chuva. E as temperaturas subirão um pouco por todo o planeta: embora ainda não haja consenso sobre a intensidade do “El Niño” para este ano, há quem avise que 2024 poderá vir a ser o ano mais quente da história, depois da rampa de lançamento em 2023.
A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês) dos EUA estima que a probabilidade de este ser um “El Niño” forte anda pelos 56%, mas há quem discorde. Citado pelo Público, Robert Leamon, cientista da NASA, prevê um 2023 tranquilo. Mas depois… “Encontraremos um forte ‘El Niño’ em 2026.”
O problema com as precisões, mesmo baseadas em 80 anos de dados seguros, é que a Terra nunca enfrentou a oscilação de temperaturas nas águas do Pacífico num contexto semelhante ao atual: o planeta já vive 1 ºC acima da média do século XX e a concentração de gases com efeito de estufa continua a aumentar. Mais: os últimos três anos até foram marcados pelo fenómeno inverso ao “El Niño”, um arrefecimento das águas a que se dá o nome de “La Niña”. Nunca tinham sido registados três anos seguidos de “La Niña”… E o planeta continuou a aquecer, apesar disso.
Os últimos oito anos (entre 2015 e 2022) foram os mais quentes de que há registo, e deste lote destacam-se 2016, 2019 e 2020, que estão no topo da tabela – em 2016 e 2020, houve “El Niño”. Preocupante é que, mesmo com o efeito “refrescante” de “La Niña”, 2022 tenha entrado para o sexto lugar desta tabela, com uma temperatura 1,15 ºC acima da média do período pré-industrial (1850/1900). O Acordo de Paris, adotado em 2015, estipula que não se ultrapasse a barreira de 1,5 ºC, mas há cada vez mais quem duvide da exequibilidade dessa meta. […]