A cidade do Porto recebeu, no dia 3 de junho, mais uma edição do Seminário “OS AGRICULTORES SÃO AMBIENTALISTAS” promovido pelo MAPA – Movimento, Ambiente e Produção Alimentar com o debate a incidir no papel fundamental dos agricultores na preservação ambiental e na promoção da sustentabilidade na produção agrícola.
O seminário, que decorreu no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), reuniu representantes do setor agrícola, especialistas e produtores que privilegiaram o diálogo e partilha de ideias para referir a importância do mundo rural na defesa do ambiente e promoção de práticas de produção sustentáveis que permitam garantir a segurança alimentar e o bem-estar animal.
A dependência da natureza é um fator determinante e sem biodiversidade a produção agrícola torna-se impraticável. Assim, a aplicação de práticas e medidas sustentáveis na agricultura, assim como a aplicação da obrigação legal de proteger a natureza, demonstra por parte dos agricultores cuidado com a natureza, permitindo-lhes funcionar como agentes e protetores do ambiente e da biodiversidade.
Ao longo do programa deste seminário foram abordados temas como, a desinformação do consumidor, a dieta mediterrânea, o porquê de os agricultores serem ambientalistas, a intensificação sustentável, desperdício alimentar e a produção de metano.
A abertura do seminário contou com a participação de Paulo Costa, coordenador do mestrado em medicina Veterinária, em representação de Henrique Cyrne Carvalho, diretor do ICBAS, de Paulo Ramalho, Vice-Presidente da CCDR-N e de Graça Mariano, a porta-voz do MAPA, que explicou os principais objetivos deste evento: “Os agricultores assumem cada vez um papel mais relevante na defesa da natureza. Afinal um agricultor que não conserva a natureza também não preserva o seu lugar e função até porque ambos estão interligados. Quem trabalha com o ambiente e a natureza é ao mesmo tempo agente ambiental e por isso também responsável pelas consequências ambientais. Este tema sempre tão em voga, assume cada vez mais relevância num mundo em que a atual conjuntura ambiental e a sua proteção é cada vez mais debatida no sentido de melhorar as práticas aplicadas.
Carlos Neves, presidente da Associação de Produtores de Leite de Portugal (APROLEP) destacou a importância dos ruminantes para o ambiente, face à reciclagem feita a partir de subprodutos de agricultura que servem para alimentação dos bovinos, produzindo uma proteína de alto valor biológico. No tema da produção de metano, Carlos Neves referiu também que os ruminantes são o “bode expiatório”.
Na perspetiva da produção do metano, também falou na frequência com que se aponta o dedo aos ruminantes relativamente à questão da produção de metano, ouvindo muito pouco sobre a produção de metano por parte da gestão dos resíduos alimentares, de tudo o que é desperdiçado.
Destacou a importância de corrigir o impacte, através da investigação científica independente da política, da intensificação sustentável e da comunicação profissional, científica e verdadeira. E a importância de arranjar equilíbrio entre proteger o ambiente e cumprir o objetivo de obter alimento para a população mundial.
Já Helena Real, Secretária-Geral da Associação Portuguesa de Nutrição [APN], frisou que a ementa continua a ser uma ferramenta pedagógica, que deve ser aproveitada e utilizada para comunicar mais informação, como a proveniência dos produtos. Tendo também referido que se deve falar da carne de forma holística, relembrando a diversidade de raças autóctones as características nutricionais únicas deste alimento, o que nos dá uma vantagem nutricional. Como um todo, a carne é uma fonte de proteínas de alta qualidade, de vitaminas, como a vitamina B12, e de Ferro de fácil absorção. É um alimento útil para uma alimentação saudável e equilibrada. Helena Real também comentou que devemos olhar para toda a perspetiva da sustentabilidade e não só para o ambiente, mas também para a economia e sociedade. E olhar para os alimentos para um veículo para tudo isto.
Adicionalmente, Helena Real referiu que a dieta mediterrânea continua a fazer sentido, sendo uma alimentação composta na sua maior parte por produtos de origem vegetal, mas os produtos de origem animal também se encontram presentes. O conceito também fala em moderação. Comer em função do que precisamos. Fazer também um uso integral dos alimentos e desperdiçar o menos possível, que é outro dos problemas.
Para João Niza Ribeiro do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) a produção de alimentos é a base da pirâmide em que nos movimentamos. Tendo confirmado que a produção animal tem impacto ambiental, mas que importa contextualizar. Que seria uma grande forma de mentira tentar aplicar no local, o que são estimativas globais. E que a oportunidade para a melhoria dos sistemas de produção é enorme.
João Niza Ribeiro também referiu que a intensificação sustentável e os sistemas de alta intensidade de produção animal, tem facilidade em controlar os seus efluentes comparando com sistemas muito alargados.
Outro desafio existente, referido foi o facto de a maior parte dos estudantes de veterinária não estarem focados na produção de animais para consumo, mas sim nos animais de companhia. O que é um desafio complexo. Tendo também comentado que a população urbana nunca viu a produção animal ou vegetal e que o modelo de ensino não está feito para a experiência, está feito para uma transmissão intensiva de conhecimento.
Também Paulo Costa do ICBAS corrobora as palavras de João Niza e conclui o seminário referindo que tenta convencer os estudantes a estarem atentos à realidade. Que têm ido às escolas secundárias projetar-lhes a relação do homem urbano com o mundo animal e vegetal, com o equilíbrio que o mundo tem.
Paulo Costa comenta que não conseguimos alimentar a população que temos sem sistemas intensivos. Referindo também a importância da agricultura e dos ruminantes para a prevenção contras os incêndios florestais.
Por último Rui Rosa Dias, do Instituto Superior de Administração e Gestão no Porto, acrescentou que os consumidores querem produtos de qualidade e de baixo de preço. Que vão pelo mais fácil, pelo que é cómodo, sendo um dos atributos pelo quais os consumidores seguem na escolha de alimentos. Ou seja, o preço, a comodidade e a conveniência. Referindo também que a indústria e o retalho sabem disso. Falando pontualmente sobre sustentabilidade e greenwashing à volta de tudo isto. Dá existência de um negócio à volta de tudo isto.
Rui Rosa Dias falou também da importância da comunicação com transparência e de estimular o nosso próprio espírito critico e valorizarmos a alimentação. Falou na fome existente no mundo e no desperdício alimentar ocorrido nos países desenvolvidos. Referindo que é complexo estudar e entender o consumidor e toda a cadeia de valor. E que comunicar deve ser com transparência.
Fonte: MAPA