A Associação de Regantes do Perímetro de Rega de Silves, Lagoa e Portimão ativou o plano de contingência para a campanha agrícola deste ano, reduzindo em 50% o fornecimento de água para as culturas não permanentes e não agrícolas.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da associação, João Garcia, explicou que “para enfrentar a seca, com efeitos significativos” nas culturas abrangidas por aquele perímetro de rega do Barlavento do Algarve, “foram definidas reduções para alguns tipos de culturas e dotações máximas para outras”.
Segundo João Garcia, foi ativado o primeiro de quatro níveis do plano de contingência, o qual “define prioridades, nomeadamente para as culturas permanentes, como é o caso dos citrinos, o setor mais representativo na área”.
“Vamos garantir o fornecimento de água para as culturas permanentes, embora com dotações máximas de 5.000 metros cúbicos [m3] por hectare e o corte do abastecimento aos domingos”, adiantou.
O responsável da associação que fornece água a 1.800 explorações agrícolas, numa área de 2.500 hectares, indicou ainda que, caso as dotações máximas sejam ultrapassadas, os agricultores “ficam sujeitos a penalizações que são refletidas no preço por m3 de água”.
“Foram definidos dois escalões para o limite de consumos, o primeiro que vai dos 5.000 aos 7.000 m3 por hectare, com uma penalização de mais três cêntimos por m3 e de cinco cêntimos a partir dos 7.000 m3”, notou.
João Garcia salientou que as medidas “visam evitar os excessos de consumos, numa altura em que todos precisam de fazer esforços para manter os níveis na albufeira do Arade”.
“A nossa situação não é tão grave como outras, mas temos de começar já a poupar, porque se não houver um inverno chuvoso, possivelmente para o ano teremos uma situação muito grave no nosso perímetro”, vaticinou.
De acordo com João Garcia, a região de Silves, Lagoa e Portimão, abrangida pela associação, “encontra-se numa situação de seca moderada, existindo água para a campanha agrícola deste ano”.
“A água existente faz com que não existam perdas de produção, porque vamos conseguir garantir as dotações para as culturas se desenvolverem”, assegurou.
João Garcia disse ainda que a juntar ao problema da seca, os agricultores enfrentam outros desafios “bem maiores, como o custo da energia e dos produtos para fertilização e adubagem dos solos”.
“Os produtos tiveram aumentos substanciais, alguns com aumentos superiores a 100%, o que está a fazer com que muitos produtores agrícolas equacionem a continuidade no setor”, frisou.
Contudo, continuou, o preço da energia é atualmente “um dos grandes problemas dos agricultores, cujo preço está equiparado a uma empresa lucrativa”.
“É inadmissível que os agricultores paguem o mesmo preço do que uma fábrica de construção de automóveis de luxo”, lamentou, acrescentando que os custos de produção “não se estão a refletir no preço final pago aos agricultores, antes pelo contrário, tendo vindo a diminuir”.
Segundo o presidente da Associação de Regantes de Silves, Lagoa e Portimão, os preços dos citrinos “caíram cerca de 50%, passando dos 50 para os 25 cêntimos por quilograma pago ao produtor”.
Na segunda-feira, o Governo reconheceu oficialmente a existência de uma situação de seca severa e extrema agrometeorológica em todo o continente, “o que consubstancia um fenómeno climático adverso, com repercussões negativas na atividade agrícola”.
Em despacho publicado em Diário da República são citados os dados de monitorização agrometeorológica e hidrológica para se dizer que a situação de seca no continente, após ligeira melhoria nos meses de março e abril, “voltou a apresentar um agravamento significativo nos meses de maio e junho de 2022 com consequentes impactos negativos na atividade agrícola”.
Portugal continental estava em maio com cerca de 97,1% do território na classe de seca severa e 1,4% na classe de seca extrema.
“Esta situação sofreu um agravamento na 1.ª quinzena de junho com a totalidade do território continental em situação de seca severa ou extrema”, lê-se no documento.