A Câmara de Ribeira de Pena quer inscrever o linho de Cerva e Limões na lista do património cultural imaterial para preservar, valorizar e impulsionar esta tradição do município do distrito de Vila Real.
“É uma identidade muito nossa”, afirmou hoje à agência Lusa o presidente da Câmara, João Noronha, que salientou que o linho tem, atualmente, expressão na União de Freguesias de Cerva e Limões, onde estão as tecedeiras que mantêm viva esta tradição e o bater ritmado dos teares.
O objetivo do município é inscrever o linho de Cerva e Limões no inventário nacional do património cultural imaterial e a candidatura já foi submetida.
“Os teares que temos, e temos bastantes, são um testemunho de muitas gerações que se dedicaram à arte”, apontou João Noronha, que lembrou que este trabalho começou por ser um complemento importante para o rendimento familiar de quem, na sua maioria, se dedicava à agricultura.
Atualmente, acrescentou, o linho ainda é sustento para algumas famílias.
Em Limões ainda se faz a sementeira e ali podem-se ver, lá para maio, os campos enfeitados com a cor azul da planta do linho, cumprindo-se depois todo o processo até ao fio no tear e o pano final.
O presidente adiantou que, com esta candidatura, se quer preservar e até reforçar o ciclo do linho, desde a sementeira até ao trabalho final.
Ricardo Carvalho, técnico superior do município e responsável pela candidatura, acrescentou que esta engloba, precisamente, “todos os passos” – desde a sementeira, à espadelada, ao modo de tecelagem, à feira do linho, aos artefactos usados, às cantigas do linho.
“E todo este inventário histórico e etnográfico em redor do linho vai ser posto à descoberta e realçado com esta candidatura”, concretizou.
Ricardo Carvalho contou que já no século XVIII as casas mais ricas da região iam a Limões adquirir tapeçarias, roupas de cama, cortinados, porque ali “o modo de produção e de tecelagem era de excelência”.
Depois de se verificar um decréscimo de pessoas a trabalhar o linho, este responsável apontou que, nos últimos dois anos, o número cresceu. À cooperativa em Limões estão ligadas 17 pessoas e, da cooperativa de Cerva, fazem parte oito.
Este aumento em Limões foi também resultado de um trabalho feito pela câmara para “não deixar morrer a tradição”, acrescentou.
Ricardo Carvalho acredita que, com a inscrição do linho no inventário nacional, vai ser possível “criar uma nova dinâmica na economia circular” e atrair ao território pessoas ligadas à moda, à decoração e mais turistas.
Em Limões já existe o Museu do Linho, onde as tecedeiras trabalham ao vivo. A artesã mais velha tem 102 anos.
Com esta candidatura o município do distrito de Vila Real quer também continuar um processo de valorização iniciado em 1999, com a primeira edição da Feira do Linho.
Porque foi uma “aposta ganha”, o presidente João Noronha adiantou que a câmara vai, em 2026, retomar a iniciativa que liga o linho à moda, com uma passagem de modelos.
“Permitiu aliás chamar a atenção do designer Christian Louboutin”, recordou.
Em 2019, tecedeiras da Cooperativa de Artesãos Cervences (CACER) foram desafiadas a integrar um projeto do francês Christian Louboutin, trabalhando nas franjas e no linho ripado para a mala de luxo “Portugaba”, uma homenagem do designer a Portugal que juntou várias artes tradicionais do país, desde o linho de Cerva à capa mirandesa ou aos azulejos.
“Este passo, de classificar o linho de Cerva e Limões, de certeza que vai ajudar a criar uma identidade muito própria naquilo que é um produto endógeno que nós queremos afirmar pela qualidade, e isso vai ser uma mais-valia, também, para as nossas tecedeiras e também um impulso grande para que não abandonem estes trabalhos”, afirmou João Noronha.
A candidatura integra o Plano de Ação Regional para a Cultura Norte 2030 da Comissão e Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N).












































