A solução para passar da insolvência ao primeiro passo numa nova vida estava quase fechada, mas o maior produtor ibérico de cogumelos parece ter outra vez o futuro em risco. Desta vez, pelo atraso no ok à renegociação de 17 milhões em dívida ao Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP).
O instituto público tem o processo de reestruturação em análise há dois meses e, ao contrário dos restantes credores – incluindo Novo Banco e Crédito Agrícola, instituições financeiras que acumulavam a maior fatia do valor em incumprimento pela empresa portuguesa -, que aceitaram o plano desenhado para salvar a produção e os 450 trabalhadores que emprega, o IFAP ainda não tomou uma decisão.
No plano submetido pelo administrador de insolvência da Sousacamp, Bruno Costa Pereira, previa-se a entrada de um fundo de capital de risco, o CoRe Restart, com investimento de 13 milhões para assegurar a restruturação da empresa, a regeneração do negócio dos cogumelos frescos produzidos em Portugal e a proteção dos postos de trabalho em vila Flor, distrito de Bragança.
Esse passo, porém, ainda não aconteceu uma vez que estava dependente de um conjunto de condições. E se a restruturação da dívida bancária pelos principais credores para níveis compatíveis com a atividade da empresa (havendo disponibilidade para um perdão de dívida que ronda os 70%) estava garantida, a aceitação pelo IFAP do plano de investimento ainda não teve andamento. Este requisito, que implica o encerramento de projetos com baixa racionalidade económica mas continuação dos restantes, de modo a concentrar a empresa naquilo que a distingue, a produção de cogumelos frescos de diferentes variedades para abastecer sobretudo o mercado nacional, é essencial à concretização do plano.
O processo deu entrada no IFAP em dezembro, mas até agora não teve seguimento, impossibilitando assim a reunião que devia acontecer nesta quinta-feira para aprovar o plano submetido pelo administrador de insolvência ao Tribunal de Vila Flor.
Fundada em 1989 e tendo chegado a receber a visita e os elogios do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e apesar das dificuldades entretanto vividas, a Sousacamp foi exportadora até 2017, tendo chegado a atingir a fasquia de cerca de 30% da produção em vendas ao estrangeiro. O acumular de dívidas nos últimos anos, chegando a 69 milhões de euros, quase obrigou a empresa a fechar as portas, tendo mesmo estado perto de ser vendida num pacote de malparado no Novo Banco, que era credor de mais de metade desse valor. O banco, porém, tal como a Caixa de Crédito Agrícola, segundo maior credor, aceitaram a restruturação proposta pela CoRe, fundo de capital de risco vocacionado para a restruturação de pequenas e médias empresas em dificuldades e que já ajudou a recuperar a Jayme da Costa, por exemplo.
Terceiro maior credor, o IFAP tem 17 milhões a receber da maior produtora de cogumelos ibérica, acumulados através do financiamento por aquele instituto público a diversos projetos da anterior gestão da empresa, incluindo uma linha de produção de cogumelos enlatados que acabou por não ser concretizada – e que o atual projeto considera anular o que são os atributos principais da Sousacamp: cogumelos frescos em mercados de proximidade. É o incumprimento destes projetos, alguns deles considerados como não tendo racionalidade económica, que o IFAP reclama no âmbito do projeto de insolvência.