As plantas estão no terreno há dois anos e tudo aponta que na próxima primavera já haja produção de rebentos. Mariano Filannino está otimista com os indicadores positivos e já pensa na expansão.
Mariano Filannino é italiano. Está em Portugal desde 2007, mais concretamente no Alentejo, onde trabalha como técnico agrícola. Entretanto, já em 2015 e em conjunto com o irmão António, que permanece em Itália, e mais três portugueses, decidiu dedicar-se também a outra cultura que considera inovadora, o bambu, materializando a Alenbambu.
Em resultado de uma candidatura ao PDR2020 avançaram com a instalação de oito hectares, na região da Vidigueira, onde as plantas estão prestes a alcançar a segunda primavera no terreno. Ao longo deste tempo foram sentido o interesse de mais produtores pela cultura e entretanto já existem plantações noutros locais (4 hectares em Alvito, 4 hectares perto de Sintra e mais um projeto de 3 hectares que será plantado em breve).
Mas porquê bambu? É a pergunta que se impõe. A resposta de Mariano é simples. Porque é um cultura inovadora, que só necessita de água e fertilização (sobretudo nos primeiros três a quatro anos), por isso não apresenta grandes dificuldades, não precisa de inseticidas, fungicidas e herbicidas. A somar a estas caracteristas na AlenBambu existe igualmente uma forte preocupação com o meio ambiente evitando-se todo o tipo de práticas que o prejudiquem, como por exemplo a utilização de plásticos.
O “segredo”, explica-nos, está na preparação do solo antes da plantação. Começa logo com a análise porque o bambu precisa de um pH entre 5.5 e 8 no máximo. Além disso, o terreno tem de ser solto para o desenvolvimento do rizoma, que nos primeiros três anos tem de “colonizar” o terreno para conseguir uma boa floresta. A partir da plantação é muito “guloso” em matéria orgânica, por isso, na eventualidade da sua carência, é necessário fazer correções.
Fundamentos da cultura vêm de Itália
Todos estes fundamentos sobre a cultura são oriundos do Consórcio Bambu Itália, do qual a Alenbambu faz parte. Foi daí que vieram as plantas (com as necessárias certificações oficiais e com 60 dias de garantia) para avançar com as plantações e é também através do mesmo que mais tarde será feito o escoamento dos produtos.
Neste momento a variedade plantada é a “Moso” e há outras duas em experimentação, a “Fargesia” está a responder muito bem e a “Tropical” que ainda está a gerar algumas incertezas devido à baixa tolerância a temperaturas baixas. A título exemplificativo Mariano explica que a variedade “Moso” tem a particularidade de aguentar até 20 graus negativos, a “Fargesia” até 25 graus negativos e a “Tropical” apenas até quatro graus negativos, significando que não aguenta muito bem a geadas.
Sendo uma cultura cujo habitat natural nada tem ver com o mediterrâneo, pode parecer um pouco estranho este investimento em Portugal. Mariano Filannino admite que se no início teve algumas dúvidas e por isso só avançou com oito hectares, hoje está certo de que a área é para expandir. Em primeiro lugar o Consórcio tem falta de produto e quer que se invista mais em Portugal porque o país tem solos ricos em matéria orgânica e em média o Alentejo consegue uma hora a mais de sol do que o sul de Itália (onde também se produz), por exemplo. Por outro lado, relativamente ao clima, praticamente não há inverno e isso traduz-se num adiantamento da cultura em cerca de dois meses também em comparação com Itália. Ou seja, se lá a colheita se inicia a partir da quarta primavera, em Portugal, a avaliar pelo desenvolvimento das plantas “é de acreditar que a partir da terceira primavera já seja possível fazer a primeira colheita de rebentos”.
Chegar aos 300 a 400 hectares a nível nacional seria uma boa meta e Mariano revela que tem recebido muitas manifestações de interesse sobre a cultura mas percebe que exista alguma expectativa para ver os resultados da primeira “entrada em produção”.
Para ler na íntegra na Voz do Campo n.º 225 (abril 2019)