Plantar uma vinha é uma atividade condicionada e para aceder a apoios existe um conjunto de regras a cumprir, definidas em legislação quer nacional quer comunitária. Por exemplo, para 2019 há 1903 hectares disponíveis a nível nacional, com o período de submissão de candidaturas às novas autorizações de plantação de vinha a decorrer até 15 de maio.
No Despacho (n.º 2072/2019) que o determina o Governo alegou que “o bom desempenho das exportações nacionais e a crescente notoriedade e reconhecimento internacional da identidade e qualidade dos vinhos de Portugal, conjugado com as perspetivas de subida gradual da procura no mercado mundial, justificam um incentivo ao aumento da capacidade de oferta do setor vitivinícola e à plantação de novas vinhas”.
As estatísticas, nem sempre consensuais, apontam para uma diminuição da área de vinha nos últimos anos, o que não tem condicionado sobremaneira a produção de vinho, embora a última campanha tenha sido a que menor produção de vinho apresentou nas últimas duas décadas. Facto justificado pelo clima que em várias alturas condicionou o desenvolvimento das uvas (calor excessivo em agosto que causou escaldões nos bagos, embora com reflexos distintos em função da casta, da exposição e da idade da vinha, e a ocorrência das primeiras chuvas significativas (nos dias 13 e 14 de outubro), baixou a qualidade, precipitando a conclusão das vindimas [INE].
Analisando os números da produção vinícola, o Instituto da Vinha e do Vinho explica que em relação ao ano anterior verifica-se diminuição da produção de 10%, com um volume na ordem dos 6,1 milhões de hectolitros, valor que corresponde a uma diminuição de 6% face à média das cinco últimas campanhas.
A maioria das regiões apresentou quebra na produção, registando-se no Minho e no Douro os maiores decréscimos em volume (superiores a 150 mil hectolitros) e destacando-se as regiões de Terras do Dão e de Trás-os-Montes, em termos percentuais, com quebras superiores a 40%.
No Continente, face a 2017/2018, o Alentejo e o Algarve apresentam aumentos de produção, respetivamente de 14% e de 6%
Nas regiões autónomas, o destaque vai para os Açores com um significativo aumento de produção passando de cinco mil para os atuais 13 mil hectolitros.
Na linha do verificado nos últimos anos, de acordo do o IVV, é predominante a produção de vinhos tintos, representando 61% do total produzido. O volume dos vinhos brancos, com 2 milhões de hectolitros, tem um peso de 33% na produção nacional e os vinhos rosados de 6% (360 milhares de hectolitros).
Já em dezembro o presidente da ViniPortugal avançava à nossa reportagem que esta quebra não condicionará a sua atividade, embora possa vir a ter impactos nos resultados finais de 2019, ano em que a Organização Interprofissional do Vinho tem calendarizadas várias ações promocionais, nomeadamente no Brasil e Estados Unidos. Se 2018 ficou marcado pela ultrapassagem da barreira dos 800 milhões de euros de exportações (já em agosto), uma das aspirações da ViniPortugal é atingir os mil milhões de euros em exportações no ano 2022. Mas, “há que ter bem ciente que se trata de uma atividade condicionada, em que o plantio não é livre, os regimes de apoio à plantação estão em fim de série (…) e os ganhos terão de vir sobretudo do aumento de produtividade”, reforçou Jorge Monteiro, presidente da Viniportugal.
À nossa reportagem, algumas das Comissões Regionais Vitivinícolas reforçam o momento positivo do setor. Por exemplo, no caso do Dão é de salientar que a produção do vinho apto a ser certificado ronda os 30 milhões de litros, sendo que em 2018 foram certificados cerca de 18,5 milhões de litros, o que representa um crescimento de 40% face a 2015. A região exporta cerca de 40% da sua produção.
Já no Alentejo, região responsável por 13% da vinha nacional (segunda maior), nos últimos cinco anos registou-se um crescimento de 5% e , segundo o presidente da CVRA, “é a região portuguesa que teve o maior aumento na área de vinha após se ter iniciado o novo sistema de autorizações de plantação em 2015. Aliás, é das poucas regiões portuguesas que aumentou a área de vinha, em contraciclo com a tendência de diminuição (-2%) que se verifica em Portugal continental”. Em termos do produto final “a exportação de vinhos engarrafados representa 25% da quantidade comercializada, o que faz do mercado nacional o principal consumidor de vinhos da região do Alentejo”.
Muito mais pequena, a área de abrangência da Comissão Vitivinícola da Beira Interior, tem cerca de 16 000 hectares de vinhas e uma grande variedade de castas. Anualmente a CVRBI certifica cerca de 4 milhões de garrafas de Vinhos DO Beira Interior e IG terras da Beira e exporta cerca de 22% para os mais variados mercados, sendo de destacar que tem vindo a ganhar notoriedade tanto em Portugal como nos mercados externos onde se destacam, o Brasil, EUA, Canadá, França e China.
Sobre a Região Demarcada dos Vinhos de Lisboa o panorama é semelhante, atravessando “um momento de grande dinamismo e notoriedade, assistindo-se a uma procura crescente dos seus vinhos no mercado nacional e internacional, com as vendas a subir na ordem dos 20%”, explica-nos o presidente da CVR, Francisco T. Rico. Assume que há muitos desafios pela frente, “mas sentimos que há otimismo na Região, bem patente na entrada de novos produtores de vinho, nas candidaturas às novas autorizações de plantação, no número de medalhas e distinções internacionais e claro no crescimento sustentado das vendas, que em 2018 atingiram cerca de 48 milhões de garrafas”.
Nos últimos dez anos a Península de Setúbal duplicou o seu volume de vinhos certificados passando de 17 milhões de litros para os 34 que se registaram o ano passado (2018), o que “aconteceu mais pelo crescimento orgânico das empresas da região, que pelo surgimento de novos projetos”, justifica Hugo Soares, presidente da Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal.
“A temática deste ano [FNA] tem como intuito realçar um setor que tem crescido todos os anos com vendas para o exterior”
É neste contexto do país vitivínícola que a organização da Feira Nacional de Agricultura (Santarém de 8 a 16 de junho) escolheu o “Vinho e Vinha” como tema principal para a 56.ª edição. “Sendo a grande montra do setor agrícola nacional, a temática deste ano tem como intuito realçar um setor que tem crescido todos os anos com vendas para o exterior superiores a 700 milhões de euros. Apesar do vinho ter estado sempre presente todos os anos ao longo da história da Feira, este ano é uma edição especialmente vocacionada para o setor vitivinícola. Com isso esperamos atrair um consumidor mais específico, potenciar inclusivamente novos aderentes ao tema e dar uma projeção do setor com toda a tecnologia e inovação que o caracteriza”, avança-nos Luís Mira, secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) e administrador do Centro Nacional de Exposições, em entrevista para ler já a seguir.
Para ler na íntegra na Voz do CAmpo n.º 226 (maio 2019)