Poças, Herdade do Rocim e Casa Cadaval criaram um mapa de vinhos de Portugal para asiático ver, conhecer e beber. “É uma aventura em plena pandemia” para dar gás ao negócio
Chama-se PWD – Portuguese Wine Discovery, nasceu em janeiro e junta três produtores de três regiões vínicas distintas apostados em crescer e em fazer crescer os vinhos portugueses a oriente. Porquê? “Para responder às alterações no eixo geopolítico e na economia mundial que já se faziam sentir há alguns anos, mas que a epidemia veio evidenciar”, explica Pedro Ribeiro, da Herdade do Rocim (Alentejo), um dos três fundadores deste projeto onde alinham, também, a Poças (Douro) e a Casa Cadaval (Tejo).
“E todos os indicadores apontam para uma recuperação mais rápida da China, o que reforça a importância de agarrarmos esta oportunidade, em especial quando alguns dos mercados mais tradicionais estão em retração”, reforça Pedro Poças Pintão, da casa Poças, a justificar o investimento conjunto previsto para este projeto: 50 mil euros no ano de arranque e 75 mil euros em 2022, para acompanhar a dinâmica de crescimento do grupo e “a esperada redução das limitações impostas pela covid-19″.
A PWD, que começou a ser pensada há três anos, cruza diferentes regiões do país com o objetivo de apresentar um portfólio complementar e abrangente. Começa por unir três produtores que representam 205 hectares de áreas de vinha, 88 trabalhadores, €11 milhões em vendas, 80% das quais relativas à exportação, onde o mercado asiático assume uma fatia de 4%.
Assume logo à partida a ambição de alargar a oferta a outras áreas do mapa vínico nacional, desde logo à região dos vinhos verdes, admitindo, até, poder integrar outros produtores das regiões fundadoras, desde que a oferta seja complementar e a procura o justifique. Assume, também, a ambição de ver a fatia de 4% das exportações correspondente à Ásia disparar.
Pensar a longo prazo
“O compromisso conjunto é de longo prazo. Ter sucesso, neste caso, será vermos as nossas empresas a melhorar as respetivas posições na Ásia, independentemente do ponto de partida e da velocidade de crescimento que cada uma assumir”, precisa Pedro Pintão.
“Sabemos que estamos a falar de um mercado distante, com uma cultura diferente, que exige tempo e investimento para criar oportunidades e uma base sólida de trabalho, mas que tem elevado potencial. Acreditamos que este é o momento certo para investir porque nos permite uma aproximação num momento que isso parece impossível e já nos deixa posicionados para o futuro”, acrescenta Cátia Casadinho, responsável comercial da Casa Cadaval, sem esquecer que com esta “união de forças, cada um dos produtores ganha escala e dilui o esforço de investimento”.
A uni-los, dizem, têm “perfis coerentes e complementares” de empresas de base familiar que não competem no mercado pelo preço, apontando para um posicionamento no patamar dos €5 como valor mínimo de venda ao público por garrafa. Mas se na Poças, com um volume de negócios de 6,5 milhões de euros e uma quota exportadora de 90%, a fatia da Ásia “ainda é residual”, tal como na Casa Cadaval (vendas de €3 milhões, dos quais €600 mil são referentes ao vinho, onde as exportações representam 57%) a Herdade do Rocim, com vendas de €4 milhões, 70% das quais no exterior, já trabalha na Ásia há 10 anos e quer faturar neste mercado €800 mil dentro de 3 anos.
No formato digital, a PWD apresenta-se com um site que conta a história do vinho em Portugal. No mundo físico, tem um escritório em Hong Kong e propõe-se cobrir todo o mercado asiático com o apoio comercial de Gonçalo Frey-Ramos, radicado no oriente há mais de uma década, mas logo na fase inicial reparte o seu foco de atenção entre a China, a Coreia do Sul e o Japão.
Três empresas familiares
A casa Poças, com uma história que remonta a 1918, fechou 2020 com um volume de negócios de 6,5 milhões de euros, 18% abaixo do ano anterior. Habituada a exportar 90% do vinho que produz para 30 mercados, a empresa fundada por Manoel Domingues Poças Junior assume que a quebra foi especialmente sentida no canal Horeca, mas a par do segmento do vinho afetou também o enoturismo. “Em 2019 recebemos 29 mil pessoas no nosso centro de visitas, em Gaia. Em 2020 recebemos apenas 4 mil”, refere Pedro Pintão, a representar a quarta geração neste negócio familiar com 3 quintas no Douro e 90 hectares de vinha.
João Ferrand – Fotografia Lda
A Herdade do Rocim , com 70 hectares de vinha no Alentejo, 5 hectares em Lisboa e outros tantos no Douro, trata mais 40 hectares de vinhas que não são próprias. Em 2020, o volume de negócios da empresa foi de 3,75 milhões de euros, abaixo dos 4 milhões do ano anterior, com as exportações a rondarem os 70%, 15% dos quais relativos à Ásia, onde entrou em 2010 e é, neste momento, a marca mais implantada do grupo fundador da PWD. A casa pertence da Movicortes, um grupo com sede em Leiria que se lançou nos anos 30 na área da mecanização da agricultura e alargou a sua atividade a diferentes sectores, incluindo o vinho, desde 2000.
D.R.
A Casa Cadaval, com uma área total de mais de 5 mil hectares na região do Tejo, tem 45 hectares de vinha e um volume de negócios global de €3 milhões, €600 mil dos quais relativos ao vinho. Com origem em 1648, exporta 57% do que produz e é gerida há cinco gerações consecutivas por mulheres, tendo atualmente Teresa Schönborn, Condessa de Schönborn e Wiesentheid, como presidente do conselho de administração.
Cátia Castro
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