«Este ano quisemos assinalar do dia da floresta de forma diferente, chamando à atenção de que a melhor forma de mostrarmos o nosso amor pela floresta e pelas árvores, é proteger as que temos», disse o Primeiro-Ministro António Costa na apresentação de trabalhos de prevenção estrutural contra incêndios rurais e de disponibilização de maquinaria pesada a organizações de produtores florestais, na Lousã.
No dia da floresta, em vez de plantar uma árvore, como usualmente, «estamos a plantar máquinas que vão permitir salvar milhões de árvores e é muito mais do que apenas plantar uma árvore», disse, referindo-se às máquinas pesadas, no valor total de 12 milhões de euros colocados à disposição de organizações de produtores e de comunidades intermunicipais, que apenas terão de pagar a sua manutenção e combustível.
O Primeiro-Ministro afirmou que «proteger as árvores que temos é, muitas vezes, tirar algumas que lá estão não devem estar, proceder à limpeza dos matos que criam uma carga de combustível muito elevada, pois só assim podemos ter uma floresta mais resistente ao fogo» e que tenha valor económico para as populações.
Trabalhar na prevenção
Este ato emblemático «traduz também a mudança da estratégia que anunciámos em 2017 e que assumiu que, quando falamos em floresta, quando falamos em fogo rural», «temos de falar destas máquinas de rasto, que têm de trabalhar na época fria, para criar o espaço de prevenção da floresta».
António Costa referiu a alteração na cultura do ICNF, «que entrega hoje ao País um produto de melhor qualidade do que entregava», apontando «o número de quilómetros das faixas de interrupção de combustível já recuperados, o trabalho de limpeza de áreas florestais já desenvolvido, todas estas operações de desenho da paisagem, que são da maior importância».
«Este é um trabalho de longo termo», «é um trabalho permanente para os próximos séculos e que vai ser cada vez mais exigente porque, com as alterações climáticas, o risco de incêndio florestal vai ser cada vez mais elevado», disse, acrescentando que «se a humanidade conseguir cumprir os objetivos do Acordo de Paris, de conter o aumento da temperatura da Terra em 1 grau, isso significa que o risco de incêndio em Portugal aumenta seis vezes».
Assim, «temos de trabalhar cada vez mais na prevenção», disse, referindo as decisões do Conselho de Ministros de 4 de março sobre as florestas que desenham «tudo o que temos de fazer até 2030, prevendo um investimento de 7 mil milhões de euros. É um investimento em equipamento de combate a incêndios, em equipamento de prevenção de incêndios, mas, sobretudo, de transformação estrutural da floresta».
O Primeiro-Ministro sublinhou que «transformação estrutural da floresta significa evitar a monocultura, criar o mosaico da paisagem, onde temos simultaneamente árvores de crescimento rápido e árvores autóctones, algumas delas de crescimento lento, cujos serviços de ecossistema temos de remunerar, para que esse investimento seja rentável».
Fazer ao contrário
Temos de «criar as condições para inverter o ciclo que o século XX nos deu de despovoamento do interior com consecutiva degradação da floresta, para voltarmos a fazer dela uma fonte de rendimento, que nos ajude a criar mais riqueza no interior e a atrair mais população».
«É fazer o contrário do que aconteceu no século passado», criando, com o investimento desses 7 mil milhões de euros até 2030, «60 mil postos de trabalho no interior» e «todas as outras fontes de riqueza em que temos de transformar a floresta, que tem de deixar de ser uma ameaça e passar a ser um valor acrescentado».
António Costa disse que «ninguém consegue compreender que, tendo Portugal uma indústria do mobiliário tão forte, competitiva e robusta, não possa utilizar a madeira da nossa floresta porque não é certificada» e importe madeira, tal como desperdice «muita da massa combustível em vez de a transformar em produtos de maior valor acrescentado ou de a reciclar para indústrias como o têxtil e o calçado».
«O que hoje é deixado ao abandono, porque se julga que não tem valor, pode ter valor. E no dia em que todos perceberem que tem valor, passa a haver uma atividade económica associada» que faz com que valha a pena «investir na limpeza da floresta, nas árvores de crescimento lento, na floresta certificada, na floresta de qualidade, que vai dar valor e ajudar a revalorizar e a repovoar todo este interior», afirmou.
Trabalho de 365 dias por ano
O Primeiro-Ministro disse que «o Estado investe na aquisição deste equipamento para o colocar à disposição das organizações de produtores florestais», «porque eles são os primeiros interessados e são os únicos capazes de chegar a cada parcela de terreno onde é necessário intervir e de que eles são os proprietários».
O trabalho de prevenção «é um trabalho de 365 dias por ano e não só dos meses e dias angustiantes em que o inevitável acontece, o fogo começa a lavrar».
«Sabemos que a pandemia dificulta e atrasa este processo, e, por isso, prorrogámos os prazos para as limpezas, mas convém não esquecer o que vimos a repetir desde 2018: é fundamental limpar as áreas em redor de cada casa, de cada povoação, as margens das faixas de rodagem, das linhas de comboio, de eletricidade, de todas as áreas de risco», disse.
Na cerimónia estiveram presentes o Ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, e o Secretário de Estado da Conservação da Natureza, Florestas e Ordenamento do Território, João Paulo Catarino, e o Presidente da Agência de Gestão de Fogos Rurais, Tiago Oliveira.
O artigo foi publicado originalmente em Governo.