Recentemente deparei-me com a difusão do pensamento de um propagandista do veganismo. Mas acresce que este não só condena o consumo de carne, leite e ovos, como afirma que o setor da produção animal tem impactos ambientais comparáveis aos dos combustíveis fósseis!!! O aludido vegan vai mais longe: condena em especial a criação animal em extensivo e o próprio uso do solo pela agricultura, pois no seu entendimento trata-se de processos conducentes à destruição ambiental.
Todas estas afirmações perentórias não se apoiam em qualquer evidência científica! O aludido propagandista antes lamenta os fracos resultados eleitorais recentemente alcançados pelos Verdes no Reino Unido e reprova que os ativistas, que protestaram numa autoestrada contra os combustíveis fósseis, tenham sido condenados a penas de prisão de quatro a cinco anos.
Para corrigir as teses do propagandista em causa, exponho em seguida alguns resultados apresentados por entidades científicas credíveis, nomeadamente o estudo elaborado pelos Professores Hall e White publicado pela muito prestigiada Universidade da Califórnia (Davis), o qual permite extrair a seguinte conclusão: se os americanos fossem 100 por cento vegans, a emissão de gases de efeito de estufa sofreria um decréscimo de 2,6 por cento.
https://clear.sf.ucdavis.edu/explainers/fossil-fuels-vs-animal-agriculture
Igualmente socorrendo-nos da informação emitida pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados-Unidos (US EPA), podemos afirmar que a Agricultura, Floresta e Outros Usos da Terra correspondem a 22% das emissões de gases de efeito de estufa registadas em 2019; os restantes 78% decorrem predominantemente dos combustíveis fósseis (produção de energia elétrica e de aquecimento, indústria, transportes, etc.).
https://www.epa.gov/ghgemissions/global-greenhouse-gas-overview
Cabe notar que a supramencionada estimativa (22%) não inclui o dióxido de carbono (CO2) que o ecossistema remove da atmosfera por sequestro do carbono (por exemplo, biomassa, solos). A importância da primeira é amplamente conhecida e por isso se luta contra a desflorestação, para assim se evitar não só o decréscimo da captura do CO2 mas também a perda da biodiversidade terrestre e a erosão dos solos. Será oportuno acrescentar que a matéria orgânica dos solos, também não considerada anteriormente na rubrica Agricultura, Floresta e Outros Usos da Terra, constitui o principal reservatório de carbono dos ecossistemas terrestres (Hinsinger, 2014); consequentemente, reduz os gases com efeito de estufa na atmosfera e assim contribui para mitigar as alterações climáticas. No caso português estima-se que o valor médio de carbono armazenado nos solos agrícolas seja de 47 t/ha (Calouro, 2005).
O propagandista em apreço traz-me à memória a alimentação da generalidade dos portugueses até ao fim da II Guerra Mundial (1945), quando o consumo de proteína animal era diminuto e a população denotava uma acentuada subnutrição. Conheci então muitos vegans, que nem sapatos usavam.
Alguns jovens “vegans” meus amigos não viram facilitado o transporte para irem saudar S.M. a Rainha Isabel II, aquando da sua visita a Portugal em 1957, precisamente para que os seus pés descalços não evidenciassem a pobreza em que ainda vivíamos. Devo acrescentar que, entretanto, alguns desses jovens atualmente deslocam-se em carro topo de gama e, não raro, da subnutrição passaram para o excesso de peso corporal.
Hoje, felizmente, já não se come galinha apenas em datas especiais e o consumo de outras carnes, peixe, leite e ovos atingiu níveis per capita elevados, proporcionando prazer aos consumidores, contribuindo para uma vida saudável e até para uma maior estatura, comparativamente à dos seus antepassados nascidos e criados antes da mencionada Grande Guerra.
Tudo isto graças aos progressos científicos entretanto alcançados no melhoramento genético das plantas e dos animais, à invenção de adubos e de protetores das doenças dos animais e das plantas, para além da introdução das máquinas agrícolas, que vieram poupar enormes esforços humanos e reduzir de 55 para 3% a população portuguesa ocupada pela Agricultura.
Engenheiro Agrónomo, Ph. D.