Nas últimas décadas, especialmente após a segunda Grande Guerra, a avicultura experimentou um progresso notável, com relevo para o melhoramento genético, mas também graças aos avanços registados na nutrição, no condicionamento ambiental de modo a proporcionar bem-estar às aves e na profilaxia que veio permitir nomeadamente a produção em grandes grupos.
Como consequência destes progressos, o custo de produção da carne de aves sofreu um decréscimo muito acentuado, de tal modo que entre nós deixou de se comer galinha em dias de festa para ser hoje a carne mais consumida pelos Portugueses, com preferência pelos frangos de crescimento rápido grelhados.
Acontece, porém, que está presentemente em discussão pública uma proposta apresentada ao Conselho Europeu no sentido de limitar a velocidade de crescimento dos frangos, só permitindo a criação de frangos de crescimento lento, que entre nós corresponde em geral aos chamados frangos de campo, que em Portugal representam cerca de 5 por cento do consumo de carne de aves e cujo preço também é muito superior ao do frango corrente.
Este maior custo pago pelo consumidor decorre do facto do frango de crescimento lento (entre nós os chamados frangos de campo) ter maiores necessidades de conservação, precisamente porque para atingir determinado peso necessitam de mais dias de criação, o que vai implicar maior consumo de ração para atingir o mesmo peso final. Além disso, os frangos de crescimento lento apresentam um peito menos desenvolvido e um maior teor de gordura, cuja síntese é mais exigente em energia do que o músculo. Acontece que a ração, constituída à base de milho e de soja, representa o principal custo de produção do frango de carne.
A este propósito é interessante atentar num recente estudo científico publicado pela prestigiada Universidade de Wageningen (Holanda), que demonstra que o progresso anual que se obtém no melhoramento genético do frango de carne – considerando a atual produção mundial – proporciona por ano ao mundo uma enorme poupança de terra cultivada (610 200 hectares, que corresponde a 160% da área ocupada pelo olival português), e também de água consumida (5,1 milhões de m3).
Acresce que, as previsões elaboradas em 2022 pela OCDE/FAO, consideram um aumento da produção de carne de aves de 16% no mundo até 2031.
Do que antecede podemos concluir que a eventual aprovação da proposta supramencionada, e atualmente em discussão pública, se fosse aprovada pela Comissão Europeia teria efeitos altamente negativos em termos de sustentabilidade: (i) ambiental, pois implicaria uma ampliação considerável da área cultivada com milho e soja, para além de um aumento brutal do consumo de água de rega; (ii) social, na medida em que não é o tipo de carne preferido pelos Portugueses, para além de que o preço da carne mais consumida em Portugal sofreria um aumento substancial, particularmente sentido por um quarto da população portuguesa que se encontra em situação económica muito vulnerável; (iii) económica, pois a criação apenas de frangos de crescimento lento iria retirar competitividade ao setor avícola europeu, conduzindo à importação de carne de frango (especialmente peito) cujas condições de criação não teriam de obedecer às regras de bem-estar animal impostas pela União Europeia.
Esta última conclusão, respeitante ao enfraquecimento da soberania alimentar, traz à colação outras áreas que só recentemente os europeus se aperceberam da sua fragilidade, desde a defesa militar à energia, passando pela indústria e pela economia digital.
Engenheiro Agrónomo, Ph. D.
Do Prado ao Prato na perspetiva de um fruticultor português – Manuel Chaveiro Soares