Os produtores de leite portugueses receberam menos 421,5 milhões de euros do que a média dos países da União Europeia, entre 2010 e 2018, segundo o relatório do Grupo de Trabalho do Setor Leiteiro.
“O total acumulado das diferenças entre os preços praticados em Portugal e na União Europeia, desde 2010, atinge 421,5 milhões de euros”, lê-se no documento a que a Lusa teve acesso e que vai ser hoje votado no parlamento.
Por ano, os produtores de leite portugueses receberam assim menos 61,5 milhões de euros do que a média dos restantes operadores da União Europeia.
O preço do leite pago ao produtor registou, entre 2010 e 2014, uma tendência crescente, “contudo, a partir do início de 2014 e até meados de 2016, assistiu-se a uma descida constante […], registando mínimos em meados de 2016”.
Por sua vez, a partir do final de 2016 “verificou-se a inflexão da tendência de descida de preços, verificando-se o aumento do preço médio do leite, quer em Portugal, quer na União Europeia”.
No entanto, em Portugal esse aumento foi gradual, enquanto nos outros países da União Europeia “foi mais acentuado, embora com flutuações mais bruscas”.
O consumo humano de leite e produtos lácteos em Portugal “tem decrescido de forma contínua desde 2010”.
A descida do consumo ‘per capita’ dos diversos grupos de produtos lácteos, com exceção da manteiga, revela, entre 2010 e 2017, uma diminuição de 14,2 quilos por habitante no consumo.
Destaca-se o consumo de leite que, entre 2010 e 2017, caiu de 84 quilogramas por habitante (kg/habitante) para 72,4 Kg/habitante, um decréscimo de 11,6 quilos correspondente a 13,8%.
De acordo com o relatório do grupo de trabalho, que teve como relator o deputado socialista João Azevedo Castro, o preço médio do leite à produção apresentou em Portugal, desde 2010, “valores quase sempre inferiores” ao preço médio da União Europeia.
“Sem obstar desenvolvimentos futuros destacamos que a produção leiteira nacional sofreu, nos últimos anis, transformações profundas para se modernizar e sobreviver num contexto global cada vez mais difícil. Os parâmetros estatísticos analisados, relativos às alterações estruturais da produção refletem o esforço de modernização que foram efetuados, com investimentos profundos nas áreas da genética, da sanidade, das infraestruturas, da alimentação e do maneio e, ainda, na formação técnica e profissional dos agricultores e das suas organizações”, defendeu o deputado relator.
Para João Azevedo Castro, a quebra verificada no mercado interno deve-se a fatores como o fim do sistema de quotas, o embargo russo, a deficiente divulgação de estudos realizados por entidades credíveis que demonstram os benefícios do consumo de leite e, em contrapartida, a difusão crescente de opiniões desincentivadores do seu consumo.
O grupo de Trabalho do Setor Leiteiro foi criado em 2017, com a aprovação do PSD, PS, BE, PCP e PAN, sendo que o PEV esteve ausente da reunião em que ocorreu a votação.
Para analisar a situação do setor do leite os deputados decidiram ouvir as principais entidades ligadas às áreas da produção, indústria, comércio, fiscalização, regulação, consumo e saúde, de que são exemplo a Associação dos Jovens Agricultores de Portugal (AJAP), a Lactogal, a Federação Agrícola dos Açores, a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), a Associação dos Produtores de Leite de Portugal (APROLEP), a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), a Autoridade da Concorrência (AdC) e a Autoridade para a Segurança Económica e Alimentar (ASAE).
Paralelamente, foram visitadas empresas do setor leiteiro, cooperativas e explorações agrícolas, entre outras.
Fonte: Sapo.pt