A produção de castanha em Valpaços deverá triplicar nesta campanha, depois de três anos consecutivos de quebras na colheita da principal fonte de rendimento dos agricultores da Serra da Padrela, segundo produtores e o presidente da câmara.
Amílcar Gonçalves tem 60 anos, vive apenas da castanha e possui à volta de mil castanheiros.
“Tem que dar para vivermos o ano inteiro”, afirmou à agência Lusa o produtor que trabalhava na apanha num souto junto a Nozedo, na zona da Padrela, por onde se estende a maior mancha de castanha judia.
E, depois de anos seguidos de quebras na colheita, este ano o produtor respira finalmente de alívio.
“Este ano está a ser melhor depois de anos de produção fraquinha”, destacou, referindo que em 2024 colheu cerca de 5.000 quilos e que, nesta campanha, antevê uma produção a rondar os 15.000 quilos.
As alterações climáticas são apontadas pelos produtores como o “pior inimigo” da castanha, devido ao calor e seca que agora se fazem sentir com mais intensidade, quando o fruto gosta de frio e de humidade.
Mas Amílcar Gonçalves acrescentou ainda mais problemas, como a vespa das galhas do castanheiro ou o cancro que atinge a árvore.
“Isto está mau, porque já temos muitas despesas no castanheiro, é preciso fazer tratamentos que antes não era preciso. Quem não fizer nada isto, morre”, contou.
À pergunta se a atividade ainda compensa respondeu: “Por enquanto ainda. Se continuasse como foram estes dois, três anitos, isto acabava às tantas por já não compensar e tínhamos que deixar”.
O presidente da Câmara de Valpaços, Jorge Mata Pires (PSD), tomou posse na segunda-feira e hoje realizou o seu primeiro ato oficial, precisamente a apresentação da Feira da Castanha Judia, que se realiza entre 7 e 9 de novembro, em Carrazedo de Montenegro, e que é uma oportunidade de negócios, um espaço de escoamento dos produtos locais e uma alavanca a economia local.
“Este ano provavelmente triplicará a produção de castanha, de menor calibre, devido à pouca precipitação, mas de altíssima qualidade”, apontou o autarca, que destacou a importância deste produto neste território, porque se trata de uma zona de monocultura.
Em Corveira, Eliseu Santos, 62 anos, apanhava a castanha com mais duas pessoas que, por estes dias, se vão desdobrando entre produtores de castanha.
“No meu caso, é capaz de haver mais um bocadinho do que no ano passado. Se a água [chuva] vinha um bocadinho mais cedo, no fim de agosto, princípio de setembro, era bem melhor, veio tarde e, por isso, esta castanha aqui esta um bocadinho miúda”, referiu.
Trabalhador na construção civil, Eliseu Santos vai tirando dias para a apanha da castanha que, na sua opinião, é o trabalho mais difícil que tem que fazer.
“Só quem se verga a elas é que sabe realmente o que custa”, referiu, adiantando que esta é, atualmente, uma atividade complicada porque os “tempos mudaram” e já não vêm “os invernos como eram antes” o que se traduz, depois, em mais “bicharada nos castanheiros”, árvore que também está a secar muito.
No lado oposto de Carrazedo de Montenegro, já em direção a Murça, Osvaldo Matias, 81 anos, apontou para uma “produção média”. “O calibre está mais pequeno, logo há menos quantidade”, referiu, destacando como causa o verão muito seco e quente.
Já produziu “10 toneladas, oito, cinco” e este ano ainda vai ver, não conseguindo antecipar quantos dias vai durar a apanha, porque os ouriços “ainda estão bastante fechados”.
A sua principal preocupação como agricultor “é o clima”. “A gente planta as árvores, secam, planta outra vez e tornam a secar e é assim porque não tem humidade, não chove, não há gelo”, frisou, elencando ainda a escassez de mão-de-obra para a apanha e que as quatro pessoas que traz consigo vêm da cidade de Valpaços “quase por favor”.
Unanimemente, os produtores dizem que o escoamento da castanha está assegurado. “Não temos problemas nisso”, frisou Osvaldo Matias.
Telmo Almeida vive em Lisboa e aproveitou uma folga prolongada para vir dar uma ajuda à mãe na apanha da castanha.
“O verão foi muito seco, não choveu e a castanha necessita de chuva para vingar agora na época da apanha. O que se está a verificar é que há muito ouriço, a castanha que há é de qualidade, penso que melhor do que no ano passado, só que a nível de rendimento na apanha é péssimo, porque se perde muito tempo, pois muita castanha não chegou a sair de forma natural do ouriço e temos que o abrir”, referiu.
O presidente da câmara exortou os produtores a aumentarem a produção e também o valor acrescentado, o que, na sua opinião, se traduzirá na criação de postos de trabalho e de riqueza.
O autarca adiantou que participam na feira 87 expositores de castanha, mas também de vinho, azeite ou frutos secos e o programa é complementado com atuações musicais, magusto e o já tradicional bolo de castanha.














































