O preço do leite pago ao produtor na Cooperativa Agrícola de Laticínios do Faial (CALF), nos Açores, vai aumentar até 3,5 cêntimos por litro, apesar da crise diretiva e financeira que a instituição atravessa, com mais de 10 milhões de euros de dívidas.
“Apresentámos uma proposta de aumento do preço do leite à produção que é variável, tem objetivos e pode ir de um cêntimo (base) até três cêntimos e meio de aumento, dependendo de conseguirem ou não cumprir com alguns indicadores que nós colocamos como condição, de compras na secção comercial”, explicou hoje à Lusa Vasco Lopes, administrador da Lactaçores, uma das associadas da CALF.
Os sócios da CALF estiveram reunidos na noite de segunda-feira, em assembleia geral extraordinária, e aprovaram uma proposta de gestão das dívidas a fornecedores e a produtores, que vai obrigar à apresentação de um plano de reestruturação e de um processo de recapitalização da cooperativa.
“Vamos apresentar os planos de reestruturação e de pagamento aos nossos fornecedores. Nos próximos dias vamos fazer esses contactos e foi também aprovado o plano de atividades e o orçamento para 2025, apesar de ser só para seis meses”, adiantou Vasco Lopes.
Por apresentar e votar em assembleia geral estão ainda as contas da CALF referentes a 2024, porque o auditor se recusou a assinar os documentos. A situação terá levado à demissão, em abril passado, da anterior direção da cooperativa, presidida por Helder Costa, que, na altura, se queixou das pressões externas feitas pela Lactaçores.
Vasco Lopes disse que a Lactaçores pretende agora nomear novo auditor e apresentar aos sócios as contas referentes a 2024, no final do ano, altura em que será marcada nova assembleia geral para eleição dos novos órgãos sociais da cooperativa faialense.
O leite entregue na fábrica pelos produtores do Faial destina-se quase exclusivamente à produção de queijo e de manteiga, que são posteriormente comercializados pela Lactaçores, empresa detida em partes iguais pelas cooperativas CALF, Uniqueijo e Unileite, mas as divergências quanto ao tipo de queijo e quanto às quantidades produzidas terão gerado desentendimentos entre ambas as partes.
Vasco Lopes entende que, apesar da sua pequena dimensão, a fábrica da CALF tem viabilidade económica, mas precisa de apostar agora em nichos de mercado, em vez de competir com outras fábricas açorianas de maior dimensão.
“Estamos a fazer estudos de mercado, para colocação de novos produtos. Vamos ter de fazer uma adaptação dos produtos da CALF à sua realidade. É uma indústria mais pequena e vamos procurar nichos de mercado e produtos diferenciados, porque concorrer com as grandes fábricas não pode ser o objetivo desta cooperativa”, frisou o administrador.
Vasco Lopes não quis revelar qual o atual montante das dívidas da CALF, mas adiantou que a comissão de gestão que ficou à frente dos destinos da cooperativa, após a demissão da anterior direção, já conseguiu reduzir o passivo em 300 mil euros, em apenas três meses.
Um relatório provisório sobre as contas da CALF, referente a 2024, a que a Lusa teve acesso, revela que a CALF teve um resultado líquido negativo superior a três milhões de euros. O valor é explicado, em parte, pela redução de vendas e de serviços prestados, que passou de 12,5 milhões de euros em 2023 para 9,5 milhões no ano passado.
Os capitais próprios da CALF, que em 2023 eram positivos, em quase 500 mil euros, também passaram a ser negativos, em quase três milhões, e as dívidas a fornecedores já ultrapassavam 10 milhões de euros.