Impressionou-me esta foto da autoria de Daniela Padrão partilhada pelo Pedro Torres. Ao fundo, lá no alto, está a igreja de S. Tiago de Bougado na Trofa e os campos agora submersos estão no lugar da “Lagoa”. Algum motivo houve para lhe darem esse nome. E avisados foram os antigos que plantaram as Igrejas em sítios altos, ao invés dos mais recentes que plantaram casas, estradas e armazéns em leito de cheia. Agora está feito e não somos um país rico para os mudar de sítio, mas podemos fazer mais para nos prevenir.
Governantes, Proteção civil e jornalistas podiam começar por conferências de imprensa antes das tempestades (como fazem os americanos antes dos furacões), com avisos e conselhos para as pessoas e depois fazer menos “diretos” à chuva. Será que as audiências aumentam com os repórteres mais molhados? E já agora, melhorar a comunicação de avisos à população e a nossa capacidade de nos organizarmos para nos defendermos e entreajudarmos. Em caso destes, os bombeiros não chegam a todo o lado.
Por falar em furacões, parece haver uma tendência de aumento de tornados ou mini-tornados aqui na zona litoral entre Vila do Conde e Matosinhos. Isto merece estudo e avisos às pessoas.
Voltando às cheias, diziam os antigos que para um ano ser bom (“agricolamente” falando) tinham de vir 3 cheias antes do Natal. No lameiro ali em baixo já contei pelo menos 5, portanto ou 2020 vai ser de arromba ou então é o efeito de mais estradas e construções e menos campos e bouças para infiltração da água. Recordo o que escrevi em Setembro e “Pude semear cedo porque é um terreno fresco, próximo de um ribeiro, sujeito a inundações, agora mais frequentes porque na pequena bacia deste ribeiro está agora uma autoestrada e uma zona industrial. Semeando cedo, quando o inverno chegar, as raízes das plantas já nascidas seguram a terra e evitam a erosão. O leito de cheia permite à água espalhar-se e não provocar inundações na povoação mais abaixo.(…) O azevém é um bom exemplo de planta resistente às alterações climáticas e situações extremas de clima, resiste a neve ou inundações. (…) Aquele terreno é plano e fértil pelo resultado de inundações ao longo de milhares de anos.” Durante anos não fez diferença andar cedo com o milho e a erva – este ano fez.
Meus caros, é normal chover no inverno, às vezes chove muito e a tendência parece ser para o agravamento dos fenómenos extremos. Podem discutir as causas históricas, políticas ou económicas, podem trocar o Trump pelo Obama ou pela Greta, podem gastar imensa energia a discutir esses assuntos nos vossos telemóveis com baterias a lítio, podem mudar as politicas que quiserem para evitar o aquecimento futuro do planeta, que as mudanças já acontecerem e temos de as enfrentar, mitigar, adaptar, limpar e alargar ribeiras, defender as culturas, os animais, as casas e as pessoas. Desde já. Agir local, sem esperar por tudo o que se pode e deve fazer a nível global.
#carlosnevesagricultor