“Nós nunca conseguimos lutar contra isso [a monocultura do eucalipto]. As pessoas não nos ouviram. Agora, acho que nos vão ouvir”, contou à agência Lusa Maria Rodrigues, porta-voz dos permacultores da região, a maioria estrangeiros, a propósitos do incêndio que começou em Pedrógão Grande e que provocou 64 mortos e mais de 200 feridos.
Sentada à beira da Câmara Municipal de Pedrógão Grande, Maria, de 46 anos, segurava um cartaz onde se podia ler “Permacultura pode ajudar, eucalipto não”, enquanto o primeiro-ministro, António Costa, entrava para uma reunião com os municípios afetados pelos incêndios que deflagraram no interior da região Centro.
Maria era a única dos cerca de 150 permacultores a marcar presença à entrada do chefe do Governo no edifício da autarquia.
“Não perdi terreno nem casa, mas muitos perderam terras ou a habitação. Perdemos também uma amiga, em Nodeirinho”, conta, explicando que a maioria dos membros da comunidade está neste momento a tentar refazer as suas vidas depois da passagem das chamas.
No entanto, já no domingo, cerca de 40 membros que praticam a permacultura (cultura que procura cultivar através de métodos sustentáveis do ponto de vista ambiental, social e financeiro) reuniram-se em Pedrógão Grande e discutiram ações a desenvolver, explicou.
“Já pedimos uma reunião à Câmara [de Pedrógão Grande] e já disponibilizámos os nossos serviços”, contou Maria Rodrigues, sublinhando que está também a ser elaborada documentação com propostas em torno da reflorestação do território afetado.
Segundo a porta-voz dos permacultores, há que combater monoculturas, sejam elas de que espécies forem.
No terreno, defendeu, deve-se garantir diversidade de espécies, sugerindo a aposta em árvores ciprestes – “resistentes ao fogo” -, assim como castanheiros, carvalhos, medronheiros e marmeleiros.
Maria Rodrigues sublinhou que também se podem encontrar alternativas ao eucalipto, como é o caso da `kiri` – árvore originária da Ásia – ou do cânhamo, que podem ser utilizadas para pasta de papel e são menos inflamáveis.
“Até se podem plantar eucaliptos, mas com barreiras de contenção”, sublinhou Maria Rodrigues, natural de Lisboa, mas que há quatro anos trocou cobranças para um banco pela permacultura em Pedrógão Grande.
Face aos conhecimentos da comunidade – dividida em vários pequenos grupos pela região -, a porta-voz realçou que os permacultores podem também ajudar na sensibilização das populações, mostrando-lhes alternativas de culturas e espécies para plantar, bem como métodos de captação de água, sem recurso a energia, exemplificou.
Apesar de a maioria dos permacultores da zona afetada serem estrangeiros, “não estão a pensar em sair. Vieram para ficar. É tudo para reconstruir, ainda mais agora que pode ser um momento de viragem”, notou.
“Não pedimos nada. Apenas que nos deixem ajudar”, disse.
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