Nos últimos meses, dois dos mais influentes organismos europeus da fileira da batata — UNPT e NEPG — emitiram alertas fortes e convergentes sobre o risco de sobreprodução no contexto atual do mercado. A análise destas comunicações é essencial para nos prepararmos de forma responsável para a campanha 2026.
Sinais de Alerta
UNPT (França)
- Para 2025, a UNPT estima uma colheita nacional recorde de cerca de 8,5 milhões de toneladas de batata de conservação, num aumento de +13% face a 2024, com um total de 197 000 hectares plantados (+15% vs 2024).
- Apesar deste aumento impressionante, a procura — sobretudo no segmento “indústria” — não acompanhou: as vendas caíram, encomendas foram adiadas e houve forte retração no interesse da indústria transformadora.
- As cotações livres de batata para indústria desabaram, com valores no intervalo de 5 a 15 €/t (em alguns mercados), provocando “situações extremas” para produtores sem contratos firmados.
- A UNPT reforça que cada hectare mobiliza “vários milhares de euros” de custos antes mesmo da primeira colheita — e sem destino comercial assegurado, esse hectare extra pode transformar-se num passivo para a exploração.
NEPG (Bélgica, Países Baixos, Alemanha, França…)
- A estimativa para a zona NEPG em 2025 aponta para uma produção total de aproximadamente 27,2 milhões de toneladas — um acréscimo de +10% em relação a 2024.
- Os preços de mercado livre caíram para níveis historicamente baixos — entre €0,50 e €4,00 por 100 kg, dependendo do país, variedade e qualidade. Os compradores mostram pouco ou nenhum interesse nessas condições.
- A indústria processadora já anunciou que pretende reduzir tanto os volumes contratados quanto os preços para a campanha 2026–2027.
Apesar de falarem de regiões diferentes e de estruturas diferentes, as duas organizações coincidem num ponto essencial: o mercado europeu — especialmente o segmento “indústria” — está saturado, e a única forma segura de produzir batata em 2026 é fazê-lo com contratos firmes, planeamento criterioso e consciência dos riscos.
- O excesso de oferta está a pressionar os preços para níveis que colocam em causa a viabilidade económica da produção.
- A procura industrial e internacional não está a acompanhar o ritmo de crescimento de produção.
- Produzir só por produzir — sem comprador garantido ou contrato — é, de facto, um risco elevado.
Os avisos da UNPT e da NEPG mostram que a batata — embora continue a ser um dos cultivos mais importantes da União Europeia — atravessa um período de forte tensão de mercado. A produção global aumentou substancialmente em 2025, mas a procura não acompanhou.
Para 2026, não se trata de recuar na produção de batata, mas de agir com responsabilidade: blindar a produção com contratos, gerir o risco, valorizar a qualidade, e decidir os hectares com base num mercado real — não numa expectativa de “boom”.
Fontes
- UNPT – “Campagne 2026 : Quand le marché dit « STOP », chaque hectare de pommes de terre doit être un choix maitrisé.” (nov. 2025) UNPT
- NEPG – “Grower: are you willing to produce while losing money?” (comunicado 25-11-2025)
Fonte: Porbatata












































