O outro apontamento que me foi suscitado pelo incêndio de Pedrógão é o das mortes ocorridas. Se algumas delas foram motivadas pelo desconhecimento das pessoas que se meteram nos carros e sem darem conta se embrenharam em pleno incêndio, outras houve que são inadmissíveis por ocorrerem nas próprias aldeias. Toda a gente sabe, e os habitantes dessas aldeias sabem-no melhor que ninguém, que há incêndios florestais por vezes envolvem as aldeias e é um risco por que passaram ou poderão vir a passar.
Quando um risco é frequente ou muito provável em determinado sítio, tem que se criar aí condições de segurança ou de defesa das pessoas para evitar os respetivos malefícios. É o que acontece, por exemplo, com os habitantes de áreas dos Estados Unidos da América que todos os anos são varridos por tornados, precavendo-se com a construção de um compartimento subterrâneo onde se recolhem quando o tornado se aproxima. De igual modo, no nosso litoral há mais de sessenta anos, antes do surto desmedido de construção junto à costa, as famílias de pescadores costeiros construíam casas em madeira sobre estacas, os palheiros, para que o mar, nas suas investidas tempestuosas e o vento, pudessem passar por baixo não inundando as casas ou não acumulando aí areia.
Significa isto que todas as aldeias das áreas florestais, especialmente se forem pequenas, devem possuir qualquer infraestrutura onde as pessoas se possam recolher do fogo e do fumo aquando da passagem de um incêndio pela aldeia ou pela sua imediata proximidade. A proteção civil junto com engenheiros civis poderão dar indicações sobre estas infraestruturas. Mas a proteção em torno das povoações, já preconizada pela legislação vigente, mas nem sempre cumprida, como a limpeza da mata numa faixa de cem metros, já seria uma medida bastante positiva e evitaria as desgraças acontecidas. Esse papel de proteção em torno das povoações era levado a cabo antigamente pela agricultura que aí era praticada, agora, como já foi dito, esta prática vai escasseando. Mas é possível recorrer a outros estratagemas como muito bem foi mostrado numa quinta no meio da serra do concelho de Figueiró dos Vinhos (Quinta da Fonte) que escapou ao incêndio por estar rodeada de carvalhos e sobreiros, que pouco arderam, enquanto à volta os eucaliptos ficaram reduzidos a cinzas. Ou seja, as propriedades dedicadas à floresta que estejam na imediata proximidade das povoações deverão entrar na contabilidade daquela percentagem de área com espécies folhosas de mais difícil ou lenta combustão. Os sobreiros são espécies indicadas para este fim, com a vantagem de poderem ser explorados economicamente todos os 9 anos, pela cortiça, enquanto os eucaliptos são-no todos os 10 a 12 anos, como já foi referido. Outras espécies poderão ter um retorno rápido, desde que estejam em produção, como é o caso dos castanheiros, pela castanha que é explorada anualmente e que tem tido escoamento garantido.
Claro que muitos outros modos de exploração da floresta podem ser levados a cabo desde que ela seja vista e programada sob a perspetiva multifuncional, mas neste caso torna-se mais fácil se houver gente mais nova no campo e essa é outra preocupação por que passa o nosso interior, não abordável nesta nota.