No final de 2022 foram estabelecidos 6 casais para a temporada de cria de 2023 no Centro Nacional de Reprodução de Lince Ibérico (CNRLI), em Silves, no Algarve. Apesar de todas terem copulado, apenas as fêmeas Queratina, René e Flora tiveram sucesso, obtendo-se um total de 8 crias. Todas as crias estão bem, tendo já passado o período de lutas de crias que caracteriza a espécie. Era e Fresa aparentam já estar em período pós-reprodutor. É a terceira temporada de cria consecutiva em que o CNRLI atinge os 100% de sobrevivência de crias até ao desmame.
O primeiro parto aconteceu a 18 de março, tendo nascido 3 crias, todas machos, fruto do emparelhamento da fêmea Queratina com o macho Jerte. É o segundo parto da Queratina no CNRLI, tendo tido outras 3 crias em 2022, todas elas reintroduzidas na natureza. É também apenas a segunda ninhada de Jerte no CNRLI, tendo produzido outras duas crias em 2017, participando entretanto em duas tentativas de inseminação artificial em 2019 e 2020.
O segundo parto foi o da fêmea René a 28 de março. René, fêmea inexperiente de 3 anos de idade que criou pela primeira vez este ano, deu à luz 3 crias – 2 fêmeas e 1 macho – cujo progenitor é Hermes. Apesar da sua inexperiência, conseguiu não só levar a gestação a termo como gerir o período de lutas entre crias com sucesso. Esta é já a quinta ninhada de Hermes no CNRLI, tendo produzido um total de 17 crias, desde a sua chegada no final de 2016.
O terceiro parto deu-se a 30 de março – a fêmea Flora teve duas crias, 2 machos, cujo pai é Quiñones. Flora iniciou a sua vida reprodutiva em 2011 no CNRLI, teve 7 ninhadas e participou numa tentativa de inseminação artificial. Teve 19 crias, tendo a grande maioria sido reintroduzida – a Jacarandá, primeira fêmea libertada no Vale do Guadiana; Kentaro e Khan entre outros linces “viajantes”. Das 19 crias paridas apenas perdeu 2, uma taxa de êxito extraordinariamente alta. Dada a sua idade e representação genética, esta terá sido provavelmente a sua última ninhada. Quanto a Quiñones, macho de 4 anos, esta é a sua segunda ninhada no CNRLI num total de 4 crias produzidas.
As fêmeas Era e Fresa aparentam ter chegado ao final da sua vida reprodutiva. Apesar de terem copulado não ficaram gestantes, o que aparenta ser normal segundo os dados do Programa de Conservação Ex Situ do Lince-Ibérico. Era, fêmea fundadora vinda do meio selvagem já com 15 anos, participou em 13 temporadas de reprodução, tendo produzido um total 10 crias em 5 ninhadas, sendo que apenas 4 sobreviveram ao desmame. Romã, sua filha, representará a sua linha genética no programa de cria no futuro.
Fresa, de 14 anos, poderá ainda ter mais uma temporada de cria – dependerá da sua condição física e importância genética em 2024. Fêmea afetada pela doença renal crónica que assolou o programa em 2008 e 2009, foi poupada a grande esforço reprodutivo devido à sua situação clínica. Ainda assim, participou em 9 temporadas de cria tendo ficado gestante nas anteriores 8, produzindo um total de 22 crias, 20 das quais sobreviventes – taxa de êxito surpreendente. Dessas, 17 foram reintroduzidas na natureza, um contributo substancial para a recuperação das populações de lince-ibérico em meio selvagem. Tendo sido – ou não – a sua última temporada de cria, deve-lhe o CNRLI e a conservação da espécie em geral uma enorme gratidão.
A fêmea Jabaluna, este ano emparelhada com o macho Galeno, não ficou gestante, mas continuará a sua vida reprodutiva no Programa de Conservação Ex Situ do Lince-Ibérico. Já teve 4 ninhadas no CNRLI, num total de 13 crias (8 das quais sobreviveram até aos 6 meses).
Desde que entrou em funcionamento no final de 2009, nasceram no CNRLI 162 crias: 127 sobreviveram até ao desmame e 103 foram introduzidas na natureza.
Artigo publicado originalmente em ICNF.