O mundo é confuso, cheio de entropia. E a ciência não é diferente. Tem muito ruído, os resultados são confusos e por vezes contraditórios, com vários falsos-positivos e negativos. O que significa que é preciso muito cuidado com a forma como os estudos são desenhados, conduzidos e os resultados interpretados. E também é por essa razão que apenas um estudo que chegou a uma determinada conclusão não valida absolutamente nada. Apenas quando replicamos os estudos e utilizamos desenhos metodológicos diferentes podemos (tentar) concluir alguma coisa. Isto é o básico dos básicos.
Agora, vamos supor que um jovem interessado em chocolate (vamos chamar-lhe Manuel) dizia: “o chocolate faz mal à saúde.” Para justificar esse ponto de vista, o Manuel utiliza uma análise de estudos que concluiu “é provável que o chocolate faça mal à saúde“. Bem…o Manuel começa mal. Dizer que é provável que faça mal é diferente de afirmar, categoricamente, que o chocolate faz mal à saúde. Certo?
Depois, o caro leitor não convencido com a afirmação do Manuel, vai procurar outras análises da evidência sobre o tema. E descobre que existem outros doze relatórios que concluem que o chocolate não tem qualquer impacto na saúde. Qual seria a conclusão óbvia? Bem…se doze relatórios diferentes feitos por cientistas diferentes em países diferentes concluem que o chocolate não tem efeito na nossa saúde, possivelmente será esta a resposta mais acertada, dado o nosso conhecimento atual sobre o chocolate. Certo?
Esta é a situação do glifosato…defender que o glifosato não aumenta o risco de cancro é senso comum. Simples. Como já falamos, existem mais de dez relatórios que concluem que o glifosato não é cancerígeno:
A isto junta-se a conclusão de Janeiro de 2019 da Health Canada que voltou a reavaliar a evidência sobre o glifosato e o risco de cancro. Voltou a concluir que não era cancerígeno mesmo após a revisão dos famosos Monsanto Papers:
“Os nossos cientistas não deixaram pedra sobre pedra na condução desta revisão. Eles tiveram acesso a todos os dados e informações relevantes dos governos federais e regionais, agências reguladoras internacionais, relatórios científicos publicados e vários fabricantes de pesticidas. Isso inclui as revisões mencionadas nos Monsanto Papers. O Ministério da Saúde também teve acesso a inúmeros estudos individuais e dados científicos brutos durante sua avaliação do glifosato, incluindo estudos adicionais sobre cancro e genotoxicidade. Para ajudar a assegurar uma avaliação imparcial das informações, a Health Canada selecionou um grupo de 20 dos seus próprios cientistas que não estiveram envolvidos na reavaliação de 2017 para avaliar as preocupações transmitidas de forma isenta. “
No entanto, isto não foi notícia em lado nenhum. O que foi notícia dois dias depois na comunicação social tradicional foi uma repescagem de uma notícia de 2017, em que parte do relatório da BfR teria sido copiado de documentos oficiais da Monsanto. Super conveniente que o relatório final sobre essa notícia de 2017 tenha saído agora. Até parece que quiseram abafar o relatório da Health Canada. Até parece que querem manter uma narrativa mentirosa sobre este tema. E já agora, a BfR explicou porque é que o relatório tem esse formato. Não há nada de conspirativo nisto.
Dado que esta parcialidade me aborreceu bastante, decidi analisar o relatório da IARC, para perceber a qualidade do relatório mais citado pelos Dunning-Krugers pseudo-ambientalistas.
Problemas com a evidência nos estudos com animais
“Houve uma tendência positiva na incidência de carcinoma tubular renal e de adenoma ou carcinoma dos túbulos renais (combinados) em machos num estudo de alimentação em ratinhos CD-1”
A avaliação da IARC é realizada de acordo com os documentos da EPA de 1985 e 1986, no que diz respeito a um estudo realizado pela Monsanto entre 1980-1982. O estudo chama-se “A Chronic Feeding Study of Glyphosate (Roundup Technical) in Mice.” feito pela Monsanto. O estudo durou dois anos envolveu 400 ratinhos (200 machos e 200 fêmeas). Foram divididos em quatro grupos de 50 machos e 50 fêmeas. Um grupo não recebeu glifosato (grupo controlo) e os outros três grupos receberam doses diferentes do herbicida (baixa, média e alta concentração). Acontece que no grupo de ratinhos machos (apenas nos machos), foram detetados tumores renais. Um no grupo de dose intermédia e três no grupo de alta dose. As fêmeas não apresentaram tumores, o que é estranho.
Um memorando de fevereiro de 1984 do toxicologista William Dykstra, da EPA concluiu que “A revisão do estudo de oncogenicidade indica que o glifosato é oncogénico, produzindo adenomas [e carcinomas] dos túbulos renais, um tumor raro, de uma maneira relacionada à dose”. A Monsanto tentou argumentar que os tumores não estavam relacionados ao tratamento e que o estudo seria um falso-positivo. Foi explicado que analisando a incidência de 20 problemas diferentes, a probabilidade de encontrar um falso-positivo é de 64 vezes por cada 100 estudos, de acordo com o valor de p apresentado. Isto é verdade. É que neste estudo não estava a ser avaliado apenas o risco de tumores dos túbulos renais, mas qualquer alteração nos diferentes órgãos dos ratinhos. Então, é possível que um falso-positivo surja apenas pelo acaso.
No entanto, a EPA não aceitou os argumentos da Monsanto. Em 1985, o Glifosato foi categorizado como pela EPA na Categoria C “possivelmente carcinogénico para humanos”.
Isto não foi bem aceite pela Monsanto, que contratou um patologista independente, Dr. Kuschner, para rever as lâminas. O novo exame de Kuschner identificou um pequeno tumor renal no grupo controlo dos ratos – aqueles que não receberam glifosato. Ninguém havia notado tal tumor no relatório original. A descoberta foi altamente significativa porque forneceu uma base científica para a conclusão de que os tumores vistos nos ratinhos expostos ao glifosato não eram, afinal, dignos de nota. No entanto, uma nova avaliação das lâminas por parte da EPA e novos cortes no tecido não encontraram mais tumores nem o tumor que foi visto apenas pelo Kuschner. Isto é suspeito. E digo isto sem problemas porque eu não estou aqui para defender a Monsanto, como muitos leitores acham.
Em 1986, toda a evidência deste estudo foi analisada por um painel consultivo. Os resultados foram dados como “inconsistentes” ou “equívocos” e o Glifosato foi classificado no Grupo D – “não classificável quanto à carcinogenicidade humana”. No entanto, foram pedidos novos estudos à Monsanto para esclarecer a questão. A Monsanto recusou fazer novos estudos, dizendo que não havia significância estatística no último estudo que justificasse a repetição. Que os dados históricos existentes colocavam o aparecimento dos tumores dentro do esperado (0-7.1%), de acordo com estudos anteriores. Que não havia mecanismo que justificasse a carcinogenicidade do glifosato. Que todos os patologistas externos tinham concluído que os tumores não estavam relacionados com o glifosato. Que outras agências tinham concluído que não havia relação (FAO/WHO; SAP; Toxicology Branch). Que os ratinhos fêmea tinham recebido doses superiores de glifosato (21%) sem qualquer diagnóstico de cancro renal.
Mais uma vez, apesar da argumentação da Monsanto ser lógica e estar bem fundamentada, parte dessa interpretação é baseada no facto de ter sido identificado um adenoma renal num ratinho macho controlo após a conclusão do estudo. Tal achado é incerto. Logo, o que faria sentido, apesar de todas as justificações, seria a repetição do estudo.
Neste caso, dou razão à IARC na avaliação do estudo. No entanto, aqui a questão é que apesar da Monsanto não ter repetido o estudo, há quem o tenha feito pela Monsanto. E não se percebe porque é que a IARC não incluiu estes estudos na avaliação do risco de adenomas dos túbulos renais. Vou colocar apenas os que dizem respeito aos ratinhos CD-1. Podem ver o resto na Tabela 4 do artigo citado:
É possível ver que nestes estudos não foi encontrado qualquer sinal de carcinogenicidade com a utilização de glifosato, em ratinhos CD-1, em qualquer dosagem. Existem outras alterações inespecíficas, mas avaliando dezenas de parâmetros existem sempre falsos-positivos. Parece existir aqui uma clara interpretação enviesada da evidência existente, salientando apenas os resultados positivos em estudos específicos.
“No segundo estudo de alimentação, houve uma tendência positiva significativa na incidência de hemangiossarcoma em ratinhos machos CD-1”
Para fazer esta afirmação, a IARC baseia-se no relatório da OMS de 2006, que se baseia no estudo de Atkinson et al de 1993 presente no quadro acima.
E qual a avaliação da WHO e conclusão dos autores do estudo?
Não houve aumento estatisticamente significativo na incidência de quaisquer tumores, benignos e malignos, em ambos os sexos, quando comparados com os grupos controlo. No entanto, o número de animais com múltiplos tipos de tumor foi ligeiramente maior em ambos os sexos na dose mais alta (machos, 16/50; fêmeas, 11/50) do que nos controlos (machos, 11/50; fêmeas, 6/50). Isso levou a um ligeiro aumento no número total de tumores na maior dose para ambos os sexos (machos, 60; fêmeas, 43) em comparação com os control0s (machos, 49; fêmeas, 36).
O hemangiossarcoma foi evidente em 4/50 machos na dose mais alta, em 2/50 fêmeas na dose mais baixa e em 1/50 fêmeas na dose mais alta, mas em nenhum dos 50 animais do grupo de controlo. (…) Devido à falta de uma relação dose-resposta, a falta de significância estatística e o facto de que as incidências registadas neste estudo estarem dentro dos limites históricos dos controlos, essas mudanças não são consideradas causadas pela administração de glifosato. </em>
Em conclusão, a administração de glifosato a ratinhos CD-1 por 104 semanas não produziu nenhum sinal de potencial carcinogénico em nenhuma dose. (Atkinson et al., 1993a)”
No entanto, a IARC acha que há uma “tendência positiva”, ignorando a avaliação da OMS e dos autores. E mais uma vez, ignora os outros estudos que não demonstram esta “tendência positiva” de aumento de risco de hemangiosarcoma. Ou seja, qualquer resultado positivo, mesmo que seja devido ao acaso, é utilizado pela IARC como se fosse resultante da utilização de glifosato. O problema é que, como referido anteriormente, se eu analisar 20, 30, 50 coisas diferentes num único estudo, a probabilidade de haver um falso-positivo é enorme. E nem sequer foi o que aconteceu aqui. Não há uma significância estatística. Não há uma dose-resposta associada. É ruído mal interpretado.
“O glifosato aumentou o adenoma de células das ilhotas pancreáticas em ratos machos em dois estudos”
Antes do relatório final da IARC ter sido divulgado ao público, foi publicado no The Lancet um “comunicado à imprensa”. Nesse comunicado, a IARC referiu que o glifosato aumentava o risco de adenoma nas ilhotas de células pancreáticas em ratos. Algo detetado em dois estudos. Bem…isto já começa a ser uma tendência.
O problema é que na monografia final, o que a IARC diz é bem diferente. Apesar de haver um aumento do número de adenoma nas ilhas células pancreáticas nos ratos, a própria IARC assume o seguinte:
“A faixa de controlos históricos para o adenoma de ilhotas pancreáticas relatada em ratos macho neste laboratório foi de 1,8 a 8,5%. [O Grupo de Trabalho observou que não existe uma tendência positiva estatisticamente significativa na incidência desses tumores e nenhuma progressão aparente para o carcinoma.]”
Ou seja, a IARC decide fazer uma avaliação correta dos achados, indo contra o próprio comunicado publicado no The Lancet. Nem sequer detetou uma “tendência positiva”.
Mais uma vez, o que diz o relatório da OMS de 2006:
“O único carcinoma de ilhotas pancreáticas encontrado neste estudo ocorreu num macho do grupo controlo, indicando uma falta de progressão neoplásica induzida pelo tratamento. Tomados em conjunto, os dados suportam a conclusão de que a ocorrência de adenomas de células das ilhotas pancreáticas em ratos machos era de origem espontânea e não estava relacionada com a administração de glifosato.”
“Uma formulação à base de glifosato foi identificada como um promotor de tumores de pele num estudo de iniciação-promoção em ratinhos”
Mais uma vez, no comunicado publicado no The Lancet, os autores referem que o glifosato pode ser um promotor nos estudos de iniciação/promoção de cancro. Mas, mais uma vez, o relatório da IARC final conta outra história. O que diz o relatório final?
“A formulação de glifosato testada pareceu ser um promotor de tumores neste estudo. O desenho do estudo foi pobre, com curta duração de tratamento, sem controlos com solvente, pequeno número de animais e falta de exame histopatológico. O Grupo de Trabalho concluiu que este era um estudo inadequado para a avaliação do glifosato.”
O estudo é de facto muito fraco. Sem contar que os tumores apareceram apenas no grupo em que existia exposição ao glifosato e ao DMBA. Este último um carcinogénio mais do que comprovado. É um estudo completamente inútil para avaliar o glifosato e que foi usado no comunicado para validar o ponto de vista da IARC. Foi considerado apropriado para argumentar a carcinogenicidade do glifosato. Mas depois o relatório contradiz o próprio comunicado. Se isto não é má ciência, não sei o que é.
Problemas com a evidência nos estudos humanos
“Havia evidência limitada nos humanos para a carcinogenicidade do glifosato. Estudos de caso-controlo de exposição ocupacional nos EUA, Canadá e Suécia relataram aumento do risco para o linfoma não-Hodgkin que persistiram após o ajuste para outros pesticidas. A coorte do AHS não mostrou um aumento significativo do risco de linfoma não-Hodgkin.”
Primeiro…apesar da IARC citar o Agricultural Health Study, não incluiu os dados mais recentes que estava disponíveis desde 2013, porque supostamente não tinham sido publicados e tal informação não foi transmitida por Aaron Blair, um dos cientistas envolvidos no projeto, quando teve reunião com o grupo de trabalho da IARC. Mais engraçado, Blair admitiu em tribunal que esta informação poderia ter mudado substancialmente a posição da IARC no que diz respeito à avaliação do glifosato.
Os artigos de caso-controlo utilizados para justificar a eventual carcinogenicidade do glifosato em humanos foram o McDuffie et al., Eriksson et al. e De Roos et al. O que é estranho é dizerem no comunicado à imprensa que houve “ajuste para outros pesticidas nos estudos utilizados”, quando tal é mentira.
O que é que o relatório da OMS, de 2006, tinha a dizer sobre isto, incluindo o estudo de McDuffie et al.?
“Os pesticidas amplamente utilizados, como o glifosato, tornaram-se recentemente um foco de pesquisa epidemiológica. Nos últimos anos, vários estudos epidemiológicos foram publicados que relataram associações fracas do glifosato com cancro linfopoéticos (Nordstrom et al., 1998; Hardell e Erikson, 1999; McDuffie et al., 2001) (…). No entanto, os resultados desses estudos não atendem a critérios geralmente aceites da literatura epidemiológica para determinar relações causais. Geralmente, as associações eram bastante fracas e raramente estatisticamente significativas. O controlo de potenciais fatores confundidores, incluindo ajuste para outros pesticidas, não foi possível devido à limitada informação disponível e ao pequeno número de indivíduos. Não foi medido se realmente houve qualquer exposição interna ou a extensão de tal exposição e, consequentemente, uma possível relação dose-resposta não pôde ser avaliada.”
No caso de Eriksson et al. que incluiu apenas 29 casos e 18 controlos na avaliação do glifosato (portanto, um estudo minúsculo), ainda podemos ler no próprio estudo:
Como a exposição mista a vários pesticidas era mais uma regra do que uma exceção, e todos os agentes isolados foram analisados SEM AJUSTAR para outra exposição, uma análise multivariada foi feita para elucidar a importância relativa de diferentes pesticidas.
E se formos ver a análise multivariada, não deixa de ser engraçado perceber que a importância relativa do glifosato diminuiu, estando dentro de intervalos de confiança que não permite validar o seu potencial cancerígeno:
No caso de De Roos et al., houve uma tentativa de ajustar à exposição de glifosato. No entanto, o estudo ficou apenas com 36 casos e 61 controlos para analisar. Ou seja, um mini, mini estudo em que é fácil dar resultados positivos sem que isso seja significativo e, mais importante, todas as limitações associadas aos estudos caso-controlo que já falamos quando abordamos o caso DeWayne Johnson.
“Um estudo reportou aumentos nos marcadores sanguíneos de danos cromossómicos (micronúcleos) em residentes de várias comunidades após a pulverização de formulações de glifosato”
Esta afirmação vem no comunicado publicado no The Lancet. Só tem um pequeno grande problema. Um dos autores do estudo foi contactado e refere que a IARC fez uma má interpretação dos resultados, que não havia qualquer indicação que o glifosato é genotóxico no estudo realizado. Quando o próprio autor de um estudo refere que o seu estudo foi mal interpretado pela IARC, o que se conclui da qualidade deste “trabalho de grupo” e das suas motivações?
Conclusão
Existem mais estudos no relatório da IARC. Mas desafio o leitor a consultar a bibliografia original. Desafio-o a consultar as outras monografias que avaliaram a carcinogenicidade do glifosato e perceber a interpretação desses estudos e porque chegam a conclusões diferentes. Rapidamente, se não estiver enviesado pela seita anti-glifosato, percebe que a IARC fez uma má interpretação dos estudos originais, fez cherry-picking dos dados e tinha claramente uma agenda a perpetuar com este relatório.
Aliás, gostava de saber porque é que a imprensa nunca deu voz aos “Portier Papers”, discutida extensamente pelo Risk-Monger e não só (artigo, artigo e artigo). Portier foi um consultor externo “perito em glifosato” contactado pela IARC…qual é o problema?
- Na mesma semana em que a IARC publicou o relatório sobre a carcinogenicidade do glifosato, Christopher Portier assinou um contrato lucrativo para ser consultor de litígios com dois escritórios de advocacia que se preparavam para processar a Monsanto em nome de vítimas de cancro supostamente causados pelo glifosato.
- Portier recebeu pelo menos 160.000 dólares (até junho de 2017) para fazer o trabalho inicial de preparação como consultor de litígios (mais custo das viagens). Este contrato continha uma cláusula de confidencialidade que restringia a Portier de declarar de forma transparente esse emprego a outras pessoas com quem entrou em contato. Além disso, Portier chegou a afirmar que não recebeu um centavo pelo trabalho que fez com o glifosato.
- Ficou claro nos emails fornecidos no depoimento em tribunal, que o papel de Portier no movimento anti-glifosato era crucial. Ele prometeu num email à IARC que protegeria a reputação da instituição, a conclusão da monografia e lidaria com as críticas por parte da BfR e da EFSA quanto à posição da IARC.
- Portier admitiu no depoimento que antes das reuniões de glifosato da IARC, onde atuava como único consultor especialista externo, que nunca havia trabalhado e não tinha experiência com o glifosato.
E no entanto, a IARC refere que “o seu grupo de trabalho foi seleccionado por serem especialistas e não terem conflitos de interesse reais ou aparentes“. Depois queixam-se da Monsanto.
Também não sei porque é que a imprensa internacional não deu voz à Reuters na questão das modificações do relatório da IARC entre o rascunho e o relatório final, em que foram realizadas dez alterações nos estudos animais, em que as conclusões eram negativas e passaram a ser positivas na relação entre o glifosato e o risco de cancro. Em seis dessas alterações removeram a frase “os autores concluíram que o glifosato não era carcinogénico“. Sem qualquer justificação da razão para terem feito tais alterações.
Também gostava que me explicassem porque é ignoraram uma crítica publicada no European Journal of Cancer Prevention ao relatório do Glifosato feito por Robert Tarone, um estaticista que trabalha no National Cancer Institute e reviu os estudos utilizados e a interpretação da IARC sobre os mesmos.
Tarone refere que o grupo de trabalho da IARC destacou certos resultados positivos dos estudos com roedores nos quais baseou as suas deliberações e, de forma gritante, ignorou os resultados negativos contraditórios dos mesmos estudos. Também descobriu que um teste estatístico inadequado foi usado, fazendo com que os dados parecessem mais impressionantes do que realmente eram. Tarone concluiu:
“Quando todos os dados relevantes dos estudos de carcinogenicidade de roedores foram avaliados pelo Grupo de Trabalho em conjunto, é claro que a conclusão de que há evidências suficientes de que o glifosato é um carcinógeno animal não é apoiada empiricamente. Até mesmo uma conclusão de que há evidência limitada de carcinogenicidade animal seria difícil de suportar…”
Ao rever os estudos realizados em humanos, Tarone descobriu que a associação do glifosato com o linfoma não-Hodgkin também resultou do favorecimento de determinados resultados, em vez de considerar a totalidade das evidências.
É isto…demonstrativo de que há uma narrativa para manter e que este relatório de bosta é a única coisa que os pseudo-ambientalistas têm de palpável para se agarrarem. E é por isso que, continuamente, este desperdício de tempo, dinheiro e papel é citado nos meios de comunicação social, em detrimento da outra dezena de estudos cientificamente mais robustos que o contradiz.
Dr. João Júlio Cerqueira
Médico Especialista em Medicina Geral e Familiar