Quando se fala do Alqueva, de novo na ordem do dia por causa da escassez de água, fala-se de um projeto que parece ter em si uma quantidade ilimitada de água para abastecer todos os regadios.
Nada de mais errado, como as alterações climáticas vieram confirmar. Os recursos naturais são limitados. A água é um recurso natural limitado. Deve, por isso, obedecer a uma gestão racional, equitativa e equilibrada. Devem ser avaliadas as implementações das ampliações de superfície de regadio já decididos. No futuro, será um desastre se houvesse um ano com rutura de água para rega no perímetro.
Os regadios devem ter um sistema de gestão de custos de utilização, regeneração e manutenção coerente e homogéneo em todo o território nacional.
Os regadios de média e grande dimensões deviam obedecer a uma entidade gestionária única na gestão, que permitisse obter economias de escala, de conhecimento e de “know how”.
Num país onde o défice da balança comercial alimentar é de perto de 4 mil milhões de euros, sendo a água um fator multiplicativo do rendimento económico por unidade de superfície, é fundamental que se tire o máximo partido da área irrigável e do regadio, assim como fazer justiça social colocando em pé de igualdade competitiva, quer no mercado nacional quer nas exportações, colocando todos os produtores com custo de utilização da água equivalentes.
Esta gestão é tanto mais necessária quando se sabe que a promoção do regadio eficiente com aproveitamento integral da superfície regada é uma das poucas formas para subir a dois dígitos a taxa de crescimento do PIB agrícola, com produções de maior qualidade e valor acrescentado.
Por isso, as perguntas sobre se a área de regadio do Alqueva deve aumentar? Não se deve olhar para as outras barragens e territórios de regadios espalhados pelo país? Como uniformizar as baixas taxas de ligação, reparação e manutenção dos sistemas de regadio?
Decisão e ação políticas são urgentes e precisas para promover um modelo económico equilibrado do regadio ao longo de todo o território continental, as alterações climáticas fazem-se sentir e ontem já era tarde para ajudar os agricultores que sentem na pele a seca, sobretudo os algarvios, beirões e transmontanos. Esta é a oportunidade única para Maria do Céu Albuquerque causar boa impressão e fazer contraponto político a Matos Fernandes, o qual parece estar politicamente apostado em manter o Ministério da Agricultura no fundo hierárquico do Governo ou, se puder, reduzi-lo a uma Secretaria de Estado.
*Blogger e consultor – em territórios – de baixa densidade
O artigo foi publicado originalmente em JN .
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