O que a APIC pretende fazer em 2023? É o mesmo que perguntar, quais as perspetivas para este ano e quais os objetivos e iniciativas que nos propo- mos realizar, tendo em vista a competitividade e sustentabilidade do Setor e da Fileira.
Produzir carne é uma atividade com muitos desa- fios, diria que, pelos menos alguns deles, são desafios muito difíceis de implementar e todos com um enorme custo de execução. Não enfatizo a sua necessidade e até a mais-valia da maioria destes desafios, se bem aplicados, mas não dei- xam de ser desafios que acarretam uma enorme responsabilidade a estes operadores económicos.
Recordando os anos noventa, quando se começou a ouvir falar de alimentos seguros e o famigerado plano HACCP, para alguns o “bicho papão”, para outros, o dossier que se vendia porta a porta, com o logo da empresa do lado, face ao copy-paste tantas vezes feito. Como se fosse possível aplicar o mesmo plano HACCP em duas empresas dife- rentes. No final do dia, este HACCP, era sempre o argumento para mais uma coima a favor da ASAE, com o enquadramento tão apetecível para se cumprir os objetivos dos inspetores – “Não aplicação do plano HACCP ”.
Mais tarde começou o enfoque no Bem-Estar Animal, como se os produtores primários fossem selvagens, como se não soubessem, independente- mente do carinho que possam ter pela vida animal, que, sem bem-estar animal, existem mais custos (os serviços veterinários, os medicamentos e con- sequentemente com a menor qualidade da carne e mesmo com as rejeições totais ou parciais).
Mais recentemente, impôs-se a responsabilidade social, quer-se garantir que a carne é oriunda de animais sem antibióticos, querem dar mostras que evitam o desperdício alimentar, que produzem com menos sal, com menos aditivos, que contribuem, pouco ou nada, para a redução da pegada do car- bono e que até utilizam embalagens recicláveis.
Atualmente, vivemos a era da informação, tudo, mas tudo tem de ser dado a conhecer ao consumidor. Até temos de informar se a linha telefónica de apoio é fixa ou móvel. A loucura total!
A opinião pública passou a ser levada em conta, independentemente da veracidade da mesma. Construíram-se narrativas diabólicas sobre o setor da carne, identificando as empresas que produ- zem carne como as responsáveis pelas alterações climáticas que estão a acontecer.
Sabemos que não é verdade, sabemos que não somos a principal indústria no contexto dos GEE. Sabemos até que somos dos primeiros setores a começar a tomar medidas e a implementar boas práticas do ponto de vista da sustentabilidade ambiental.
Então, o que falta? Falta comunicação!
Falta dar conhecimento científico, técnico e fide- digno aos consumidores sobre como se produzem animais e se produz carne!
Falta dar a conhecer ao público em geral, os requisitos de biossegurança implementados; as condições exigentes em termos de bem-estar animal quer nas explorações quer nos matadou- ros, por esta Europa fora; falta dar a conhecer as boas práticas implementadas nas indústrias, as energias renováveis quer nos transportes quer nas linhas de produção, a produção com menos sal e menos aditivos, a participação na economia circular de forma cada vez mais robusta.
É preciso fazer mais pelo setor e sem dúvida nenhuma que é a comunicação que faz falta.
Há que acabar com os mitos que foram sendo criados à volta da produção de carne!
Há que dar a conhecer que as respostas às perguntas que vão surgindo, tais como:
- A produção de matérias-primas para a alimentação animal concorre com a produção de alimentos para humanos?
- A produção de ruminantes é a prin- cipal responsável pelas emissões de GEE?
- Os animais sofrem no momento do abate em matadouro?
Têm uma única Resposta: Não!
Não. A produção de matérias-primas para a alimentação animal não concorre com a produção de alimentos para humanos, até porque 86% da alimentação animal (forra- gens, resíduos de culturas e subprodutos) não é adequada para consumo humano (FAO, 2018).
Não. A produção de ruminantes não é a principal responsável pelas emissões de GEE, sendo a principal Indústria, a Indústria Produtora de Energia que pro- duz 28% dos GEE, seguida pelo setor dos transportes, com 24,6% dos GEE (Eurostat, 2018).
Não. Os animais não sofrem, porque os animais são atordoados antes de morre- rem. Existe legislação europeia harmoni- zada e especifica sobre o atordoamento dos animais no abate, o Regulamento (CE) nº 1099/2009, o qual estabelece requisi- tos muito exigentes quer relativamente aos equipamentos de atordoamento quer também em termos de formação dos tra- balhadores dos matadouros no âmbito do bem-estar animal.
Para que esta comunicação seja eficaz e chegue a todos é preciso que tenha o patro- cínio dos vários setores que são parceiros da produção de carne. Razão pela qual, a APIC e mais 23 entidades têm estado a dina- mizar um movimento que se materializa na constituição de um grupo de associações/ entidades (agora também com empresas pri- vadas, associados da APIC e uma empresa de aves, que não quiseram ficar de fora) cujo objetivo é comunicar em conjunto (a uma só voz) com vários destinatários, no sentido de defender proativamente as atividades dos setores agrícola, pecuário e indústria da carne, que têm sido diabo- lizados, como sabemos.
Foi selecionada uma agência de comunica- ção, estando já a postos para se começar a operacionalizar o plano de comunicação que pretendemos, no mais curto período possível.
Naturalmente, que este Movimento se deve alargar o mais possível, e não deixar nenhuma entidade de fora, pois, todos, sere- mos poucos nesta missão!
Por esta razão, se tornou o objetivo princi- pal da APIC-COMUNICAR!
Poderíamos assim deixar uma lista de obje- tivos e iniciativas da APIC para o ano de 2023, mas optámos por dar relevo ao que se quer mesmo fazer, com força e determi- nação. COMUNICAR!
Fonte: APIC