Vocês sabiam que cada campo, cada parcela de terra tem um nome? Sexta-feira terminei as sementeiras no campo da “Arroteia de baixo”. Do outro lado da estrada está outro campo, a “Arroteia de cima”, ainda à espera da semente. Uma “arroteia” é um terreno que foi desbravado, provavelmente há centenas de anos. O meu pai conta que estas parcelas de terra, compradas pela minha avó, pertenceram em tempos ao convento Franciscano de Azurara, que podem ver ao fundo, na foto tirada hoje na sementeira do campo de “Montezelo”. Talvez este nome queira significar um pequeno monte, como é o caso. É possível que quase todos os terrenos que cultivo por aqui, entre Árvore e Azurara, tenham sido pertença desse mosteiro, embora na história dos registos das propriedades haja mais referências ao convento de S. Bento de Vairão.
Também semeei o “Campo do Sol”, que deve ter sido batizado assim por estar num declive exposto a sul e, portanto, ao Sol. Passei ainda pelo “Campo do Outeiro” (outro “pequeno monte”). Do outro lado da estrada velha, está o “Brejo”. “Brejo” significa pântano. Hoje é um terreno enxuto, ligeiramente arenoso, mas estando junto à ribeira da Granja, devia ser um local húmido que terá sido drenado. Por causa dessa ribeira, cultivo várias parcelas que ficam na sua margem com o nome de de “campo da ribeira”. Temos depois de distingui-las: “Ribeira do Loureiro, Ribeira nova…
Também cultivamos uma “Agra”, que tal como “agro” significa “campo”. Há depois um “Campo da Bouça”, naturalmente junto a uma bouça, e o campo da “Bouça Aberta”, uma clareira rodeada de floresta por dois lados (talvez no passado fosse uma clareira no meio das bouças, daí o nome. Há ainda as cortinhas. Cortinha é o que se chama ao terreno que fica junto à casa agrícola.
Estes nomes estão no registo predial dos terrenos, nas escrituras de compra e venda, nos contratos de arrendamento e nos registos que temos de fazer das sementeiras, adubações, colheitas e tratamentos. Precisamos desses registos para nosso controlo e alguns são obrigatórios por lei.
Podemos ainda dar novos nomes à terra. O meu filho Luís, que me acompanhou muitas vezes na mudança da rega durante este verão, batizou os campos conforme o sistema de rega. Tínhamos o campo da gota-a-gota, o campo da máquina verde, o campo da máquina vermelha e o campo da máquina suja (por causa do óleo de lubrificação que escorreu da corrente).
Cada parcela, cada campo, cada terreno tem um nome, uma história e características que aprendemos com os antepassados, que vamos aprendendo com a experiência e que num futuro breve poderemos aprofundar com a agricultura de precisão que, com recurso a sensores, imagens de satélite e sistemas informáticos nos permitirá cultivar cada metro quadrado de forma mais eficiente e sustentável.
#carlosnevesagricultor