A venda de créditos de carbono pode ser uma boa fonte de rendimentos extras para os negócios que sequestram mais emissões do que as que emitem. E se este pode ser um bom negócio, há de chegar uma altura em que deixa de ser viável financeiramente. Pelo que o mais importante é mesmo apostar em transformações operacionais e estruturais no sentido de conseguir a neutralidade carbónica. Em toda a cadeia de valor.
A consciência ambiental e, consequentemente, a definição de estratégias de descarbonização são cada vez mais evidenciadas e utilizadas. E é neste contexto que entra o mercado de carbono. Pense numa bolsa de valores na qual as empresas (sejam investidores ou vendedores), em vez de transacionar ações, usam créditos de carbono. Há uma parte que está devidamente regulada, mas, a maioria, é puramente voluntária.
“Este mercado voluntário assenta, atualmente, na confiança que as empresas têm em projetos de compensação de emissões de CO2 (plantação de árvores, agricultura e outros que possam sequestrar carbono da atmosfera) ou projetos que possam evitar emissões de CO2, não existindo nenhum local ainda onde o registo destes créditos seja realizado, de forma a garantir a não existência de dupla contabilização bem como a coerência e a qualidade dos métodos usados para a realização dos cálculos das emissões poupadas e/ou compensadas”, explica Sofia Santos, sustainability champion in chief da Systemic.
Cláudia Coelho, partner da PwC, acrescenta que no âmbito das estratégias de compensação as empresas têm de recorrer à compra de créditos de carbono, o que torna este mercado um mercado de enorme potencial.
A questão de ser um mercado voluntário e de (ainda) haver pouca regulação obriga à criação de um sistema de classificação que uniformize o mercado e dê credibilidade ao mesmo.
Uma outra questão relacionada com a falta de regulação prende-se com a necessidade de existir uma classificação. Deve haver “algumas regras básicas de funcionamento a nível nacional”. Como afirma Sofia Santos, é necessário existir um conjunto de informação dada por todos os projetos que evitem/sequestrem carbono devem reportar, um conjunto de metodologias que é recomendável seguir, e um local público onde estas emissões são registadas, ficando claro quem é o vendedor, o comprador, a quantidade e o preço.
Venda de créditos: uma oportunidade de negócio
Para quem captura mais carbono do que emite, o mercado voluntário de carbono pode ser uma oportunidade para obter receitas extras. O setor primário, nomeadamente a gestão das florestas e a agricultura, é um bom exemplo. Como lembra Sofia Santos, “na realidade, terras que hoje “não têm valor imobiliário” podem ter um valor significativo associado ao carbono que poderão sequestrar bem como aos serviços de ecossistemas que poderão vir a prestar à sociedade”. A especialista da Systemic refere mesmo que existe atualmente em Portugal um número crescente de empresas que apresentam soluções para sequestro de carbono.
Já Cláudia Coelho apontou a pressão sentida pelas empresas e tendo por origem os stakeholders. […]