O Governo reconheceu oficialmente que todo o país está em seca severa ou extrema e disse que os portugueses que vão ter de se habituar a viver com menos água, deixando um aviso ao setor do golfe. A CNN Portugal falou com empresários e com a federação, que garantem que “não são o elefante na sala” e já têm em prática muitas medidas para poupar os recursos hídricos
Sempre que a água escasseia em Portugal, associações e partidos com maior vertente ambientalista apontam os holofotes na direção dos campos de golfe e pedem mais limitações ou proibições. Este ano não foi exceção, mas uma outra voz se ergueu, o próprio Governo.
“Somos um bode expiatório. É fácil culpar o golfe, é fácil bater no golfe, porque somos só 16 mil praticantes federados”, explica à CNN Portugal Alexandre Barroso, presidente da Associação Gestores de Golfe de Portugal (GGP) e diretor do Troia Golf.
Na última semana, o Governo reconheceu oficialmente que todo o país está em seca severa ou extrema. No mesmo dia, o ministro do Ambiente afirmou que os portugueses vão ter de se habituar a viver com menos água. Duarte Cordeiro disse também que o Governo “não tem qualquer tipo de limitação na aplicação de restrições” de consumo de água, deixando um aviso ao setor do golfe. Em Portugal, existem 100 campos de golfe, desde o Norte às Ilhas, sendo o Algarve a região onde há mais, quase um terço do total (29). Mas não é por isso, defende a Federação Portuguesa de Golfe (FPG), que o consumo de água tem um peso desgovernado. A FPG cita, por exemplo, o Plano Regional de Eficiência Hídrica para o Algarve, de julho de 2020, onde o consumo da atividade pesou 6,4%, valor que que contrasta com os consumos agrícola (56%) e urbano (34%).
O presidente da FPG, Miguel Franco de Sousa, diz à CNN Portugal que “a escassez de água no Algarve não tem origem na rega dos campos de golfe“, que, lembra, “representam benefícios económicos importantes com receitas que chegam aos 500 milhões de euros – uma parte importante do PIB”. “São, ainda, responsáveis por cerca de 2.000 postos de trabalho, diretos e indiretos, e contribuem de forma determinante para o aumento da notoriedade de Portugal a nível internacional, tendo a região sido várias vezes eleita o “Melhor Destino Mundial de Golfe” pelos World Golf Awards”, aponta também.
“Os campos de golfe, que consomem 6,4 % de água, não são o demónio, não são o elefante na sala e não deixam o país em seca”, garante.
A manutenção dos campos numa região problemática
Mas é precisamente a rega que faz com que todos olhem de lado para os campos de golfe, sobretudo numa região com falta de água permanente. “O grande problema será a enorme quantidade que os campos de golfe usam para a rega, sobretudo, numa região que é das mais afetadas pela seca”, explica Sara Correia, especialista em recursos hídricos da Associação Ambientalista ZERO, que defende que o uso de águas residuais tratadas seria uma alternativa viável para este tipo de complexos.
O Bloco de Esquerda avançou, na quarta-feira, com um projeto de lei para que a rega dos campos de golfe seja feita na totalidade com águas residuais reutilizadas, criticando a ausência de medidas do Governo perante a grave situação de seca.
Alexandre Barroso considera que existe “uma perseguição bloquista” ao golfe e diz que não esquece a campanha das legislativas de 2019, quando Mariana Mortágua, em entrevista à TVI24, pediu que os campos de golfe deixassem de pagar 6% de IVA para passarem a pagar 23%, algo que já estava a ser praticado há alguns anos.
Para além disto, o presidente […]