Bom: o milho é uma cultura fantástica com grande capacidade de fotossíntese. Na espiga está 60% do valor da planta. O grão é muito energético. Um hectare de milho a crescer liberta mais oxigénio do que uma floresta.
Bom: choveu na primavera e início do verão, pelo que tivemos mais água nos poços para regar, menos necessidade de rega e melhores produções nos campos secos onde falta a água ou o tempo para regar.
Mau: a chuva atrasou as sementeiras e o tempo fresco ao longo do verão atrasou ainda mais a colheita.
Bom: apesar de tudo, consegui semear os campos destinados à produção de milho grão a 15 de abril, escapar aos ataques da bicharada que costumam vir mais tarde e aproveitar as chuvas da primavera e verão.
Mau: muita gente não conseguiu semear tão cedo e quando quis começar a colher o milho disseram-me que não havia milho suficiente para abrir o secador, surgiu ainda uma avaria e a primeira chuva apareceu no horizonte.
Bom: consegui novas parcelas para cultivar e aumentei a área de “milho para as galinhas”, de ciclo muito curto, que não precisava de ir ao secador.
Mau: o portão de entrada de um desses campos só tinha 3 metros de largura e não era suficiente para as debulhadeiras que colhem 4 ou 6 linhas.
Bom: Havia uma debulhadeira pequena disponível (Laverda M100).
Mau: Estava avariada;
Bom: Era possível alargar a entrada com uma obra simples, mas, entretanto, a máquina ficou pronta para trabalhar e marcámos para meio da tarde de um sábado.
Mau: a máquina avariou no campo do cliente anterior.
Bom: Foi reparada e chegou às 20h00 a minha casa.
Mau: Avariou novamente a 100 metros do meu campo.
Bom: o mecânico era boa pessoa, veio ajudar, às 21h30 começamos e às 23h30 acabámos.
Mau: o secador continuava fechado para entregar o outro milho das maiores parcelas; No dia que abriu (segunda-feira, 30 de setembro), quem me vinha debulhar o milho com uma Laverda 3400 de 4 linhas, estava comprometido para fazer uma silagem do milho e depois terça e quarta choveu; Também tive de cancelar os camiões de transporte para o secador porque o reboque graneleiro que tinha contratado para levar o milho da maquina ao camião também avariou antes de chegar.
Bom: na quinta-feira a chuva passou e depois do almoço começámos a debulhar. Fizemos uma parcela grande e começámos outra. Levei o milho ao secador com o meu reboque (uma hora de viagem) e com um reboque emprestado.
Mau: às 20h00, partiu um carreto importante com previsão de avaria demorada. Tive de devolver o reboque emprestado porque ia para a silagem no dia seguinte. A máquina velhinha estava com avaria.
Bom: Na sexta de manhã o Daniel conseguiu trocar o motor de arranque à velhinha e veio continuar o trabalho depois do almoço, primeiro uma pequena parcela, depois acabámos o que faltava na outra; Consegui outro reboque emprestado para levar milho. Levei o Daniel a casa depois do jantar e faltavam pouco minutos para a meia-noite quando passei em Vairão a combinar com o motorista e com o pessoal da debulhadora Claas de 6 linhas, que andou noite fora; no dia seguinte fui “buscar” a máquina como “carro piloto” e colhemos debaixo de muita humidade a parcela maior que me faltava (cerca de 3 hectares). Consegui colher todo o milho que semeei, sem cair, antes do temporal. O reboque graneleiro de trasfega ficou pronto 15 dias antes do previsto e também ajudou um pouco.
Mau: Tentei colher o milho de um familiar mas estava mais verde que o meu e não foi possível.
Bom: Devolvi os reboques emprestados sem os avariar.
Muito bom: a disponibilidade dos motoristas, do pessoal do secador e de quem me emprestou reboques!
E o Vilão? Há dois: Primeiro, o baixo preço do milho, que dificilmente paga todo este trabalho e depois o outro vilão tem sido o estado do tempo, neste outono molhado com o maior temporal dos últimos anos que nos atrasou o trabalho e deitou muito milho ao chão. Espero que, entretanto, venha um BOM Verão de S. Martinho. A agricultura é a arte da esperança.
O artigo foi publicado originalmente em Carlos Neves Agricultor.