Nos EUA, investigadores do Boyce Thompson Institute (BTI) e da Universidade Estadual de Iowa (ISU) desenvolveram uma técnica inovadora que utiliza plântulas jovens em vez de embriões imaturos. Esta técnica permite simplificar e reduzir o custo da transformação genética do milho, abrindo caminho a mais laboratórios académicos na melhoria de uma cultura essencial à segurança alimentar global.
Nos últimos anos, a engenharia genética do milho tem-se revelado um processo dispendioso e tecnicamente exigente, reservado sobretudo a grandes empresas com instalações avançadas. Tradicionalmente, a transformação genética assenta na extração de pequenos embriões imaturos de grãos maduros, cujas taxas de sucesso dependem da qualidade do material biológico e da sofisticação do laboratório.
Para ultrapassar este “gargalo” investigacional, uma equipa liderada por Joyce Van Eck, do BTI, em colaboração com Ritesh Kumar, da ISU, adaptou um método originalmente concebido pela Corteva Agriscience. Em vez de embriões extraídos de plantas adultas, recorre-se aos verticilos foliares – feixes compactos de folhas em desenvolvimento – de plântulas com apenas duas semanas de idade. Este ajuste reduz drasticamente o tempo de cultivo e elimina a dependência de invernadouros sofisticados.
O estudo, publicado na revista In Vitro Cellular & Developmental Biology—Plant, comparou dois tipos de plásmidos auxiliares: um patenteado pela Corteva e outro de acesso público, desenvolvido pelo grupo de Kan Wang, da ISU. Testado em dois genótipos distintos de milho – o recalcitrante B73 e o PHR03 –, o método revelou taxas de sucesso semelhantes, demonstrando a viabilidade desta abordagem em variedades tradicionalmente difíceis de transformar.
“A maioria dos laboratórios académicos não dispõe dos recursos necessários para cultivar embriões de alta qualidade”, explica Van Eck. “Com esta técnica, qualquer laboratório com acesso a plântulas jovens pode agora participar ativamente na bioengenharia do milho.” Kumar acrescenta que este é “o primeiro passo para tornar a investigação mais inclusiva e acelerar o desenvolvimento de variedades mais produtivas e resilientes”.
O milho está presente em quase todos os produtos do dia a dia – desde cereais e rações para animais até cosméticos, medicamentos e mesmo biocombustíveis. Face às alterações climáticas e à crescente procura alimentar, a capacidade de criar cultivares com maior tolerância à seca, resistência a pragas e melhor valor nutricional torna-se crucial.
Olhar para o futuro passa agora por testar este protocolo em outros genótipos com atributos desejáveis, nomeadamente resistência a estresses bióticos e abióticos. Se os resultados se mantiverem promissores, o seu impacto poderá estender-se para além dos laboratórios, impulsionando inovações agrícolas que reforcem a segurança alimentar em todo o mundo.
Leia o estudo aqui.
O artigo foi publicado originalmente em CiB – Centro de Informação de Biotecnologia.