Investigador em Ciência e Microbiologia do Vinho e coordenador da pós-graduação em Enologia da Católica, José António Couto explica como está a crise climática a afectar a produção de vinhos.
José António Couto é professor na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa, investigador nas áreas de Ciência Alimentar e Ciência e Microbiologia do Vinho e coordena desde 2017 a pós-graduação da Católica em Enologia. Falámos com o especialista sobre como estão as alterações climáticas a condicionar a produção de vinhos.
A antecipação generalizada das vindimas no país explica-se com as alterações climáticas?
Temos observado essa tendência nos últimos anos para as vindimas serem mais cedo. E toda a gente relaciona este facto com as alterações climáticas. Não há como fugir desse tópico. Mas temos também que relacionar isto com as condições climatéricas específicas do ano. E, este ano, as temperaturas durante o Inverno foram relativamente altas e choveu bastante. Depois no Verão as temperaturas foram relativamente altas. E as temperaturas relativamente altas e o facto de existir água no solo apressaram a maturação das uvas.
O ciclo vegetativo da videira arrancou mais cedo, é isso?
Sim. Verificaram-se, de facto, condições muito favoráveis para termos um ciclo vegetativo mais rápido da videira. No entanto, isto não quer dizer que no próximo ano as vindimas sejam exactamente nestas datas. Podem ser mais tarde, as condições específicas de cada ano vão influenciar muito o ciclo vegetativo da videira. Outro aspecto importante e é o facto de não se terem verificado aqueles picos de calor.
Mas o Dão, por exemplo, ainda há dias sofreu com esses picos, com os escaldões. No espaço de um mês teve dois períodos de escaldão, três dias há um mês e outros dois há 15 dias.
Nunca podemos generalizar. Não […]