Numa década, o mapa agrícola mundial já não será o mesmo, tornando alguns produtos mais caros, outros mais raros, e muitos deles diferentes. Como, afinal, isso afetará as nossas refeições e o que podemos fazer para atenuar essas mudanças no nosso prato?
Vinhos mais alcoólicos e produzidos numa quinta em Bruxelas, menos farinha nas prateleiras dos mercados, abacates cultivados em solos ingleses e o fim do café arábica na bica. A agricultura mundial está a passar por imensas transformações que terão um impacto significativo nos alimentos como os conhecemos graças às mudanças climáticas que estão em curso no nosso planeta. Pesquisadores e cientistas de todo mundo alertam para um cenário muito distinto para a produção alimentar com o aumento da temperatura mundial previsto em seis graus Celsius nas próximas três décadas. Os termómetros mais altos vão-nos impor uma série de alterações no mapa agrícola global, afetando de forma inédita aquilo que colocamos no prato — e até no copo. “As previsões dos cenários climáticos que temos vão até 2050. E elas mostram mapas de regiões que se tornarão completamente improdutivas e regiões que eram consideradas totalmente inaptas a algumas culturas e que se tornarão surpreendentemente aptas para elas. É uma transformação completa da geografia produtiva mundial”, explica o pesquisador Tiago Reis, do Instituto da Terra e do Clima da Universidade Católica de Louvain, na Bélgica.
Em 2019, um relatório divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que envolveu um estudo coordenado entre 52 países, concluiu que se o aquecimento global ultrapassar o limite de 2°C estabelecido pelo Acordo de Paris, grande parte das terras férteis se transformarão em desertos, teremos um irrefreável degelo do permafrost, e fenómenos meteorológicos extremos colocarão em risco todo o sistema alimentar. As perspetivas não são mesmo nada otimistas: segundo as Nações Unidas, o planeta perde 24 biliões de toneladas de solo fértil todos os anos. Em um panorama de alimentar uma população mundial que pode chegar aos 10 mil milhões de pessoas em menos de 30 anos, trata-se mesmo de uma equação matemática difícil de solucionar.