O ministro da Agricultura moçambicano, Celso Correia, afirmou hoje que as perspetivas para a campanha agrícola são boas, com chuva e 5% de crescimento, mas sublinhou que a “paz social”, no atual contexto de manifestações pós-eleitorais, é essencial.
“É muito importante termos paz social, porque a paz social permite-nos produzir, permite que cada família que tem a sua atividade possa desenvolver e ter o seu rendimento não afetado. Então, entre todas as condições, para além daquelas do clima, financiamento, condições de trabalho, a paz social é essencial para que a gente possa ter uma campanha tranquila no próximo ano”, afirmou.
Desde as eleições gerais de 09 de outubro, Moçambique já registou cerca de dez dias de paralisações e manifestações, que degeneraram em violência, convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados anunciados pela Comissão Nacional de Eleições, que deram a vitória ao candidato Daniel Chapo (70,67%), apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder desde 1975), e que carecem ainda de validação pelo Conselho Constitucional.
Celso Correia, que falava, em Maputo, à margem do conselho coordenador do Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural, perspetivou que a campanha agrícola 2024/2025 terá um crescimento de 5%, fruto das chuvas esperadas.
“Importa referir que grande parte da agricultura em Moçambique é naturalmente dependente da chuva, depende do nível de chuva, e este ano vamos ter abundância, pelo ‘El Niño’. Todos os dados que temos em nossa posse indicam que vamos ter boa precipitação, que permite dar a cobertura necessária em termos diferentes ao longo do território nacional”, garantiu.
Recordou que a zona sul do país já está a registar chuvas – a época chuvosa em Moçambique decorre de outubro a abril -, enquanto nas zonas centro e norte o tempo de lançamento da cimenteira será “um pouco mais tarde”.
“O calendário agrícola tem sido afetado por estas alterações climáticas, mas a expectativa é que na próxima campanha nós possamos ter um bom clima, isto vai ter um impacto positivo na produção”, disse.
“Neste momento nós temos perspetivas boas, perspetivas que dão conta de um crescimento acima de 5% (…), mas vai depender de outros fatores também importantes. Sabemos que o nível de uso de semente certificada está a aumentar, o uso de fertilizantes também está a aumentar, estamos à espera de ver uma retoma do setor do açúcar, que teve quebras por conta das cheias”, disse ainda.
Com o mercado de consumo no sul fortemente dependente das importações, agrícolas, da vizinha África do Sul, Celso Correia admitiu a necessidade de “melhorar” a competitividade moçambicana no setor.
“Para podemos competir, [é preciso] controlar um pouco melhor as fronteiras, porque temos também muito contrabando, que às vezes entra e torna a competição injusta, e (…) nós temos que ajudar os produtores a melhorarem a qualidade. O mercado também determina este exercício, mas é um trabalho gradual”, explicou.
Destacou, como exemplo, a banana, que já é um produto moçambicano de forte exportação, mas, por outro lado, apontou o caso do tomate: “Nós ainda não temos tecnologia suficiente para permitir a produção em estufa fora de época e os sul-africanos têm. Então, quando o clima muda em Moçambique, o abastecimento local desaparece, deixamos à mercê do abastecimento externo”.
Defendeu, por isso, a necessidade nesta aposta, face aos “desequilíbrios” no setor.
“Estamos a acompanhar e a registar mudanças graduais, não são aquelas que nós gostaríamos, nós gostaríamos de ter independência total, mas há avanços significativos que mostram que começamos a ter empreendedores agrícolas mais arrojados que vão buscar tecnologias mais avançadas. Temos muitos jovens, particularmente na cintura de Maputo, nas zonas verdes, a implementar novas tecnologias a entrarem no mercado com agressividade”, concluiu.