O acesso à matéria-prima é um “problema forte” para as empresas do setor da madeira, devido aos incêndios em Portugal, que consomem em média 100.000 hectares de floresta por ano, disse o presidente da AIMMP à Lusa.
“A matéria-prima, neste momento, constitui um problema forte para as empresas. […] Aquelas empresas que operam na primeira transformação estão a sentir cada vez mais problemas com a floresta e estão a sentir esses problemas porque os incêndios têm sido muito grandes em Portugal, tem ardido uma média de 100.000 hectares de floresta por ano”, afirmou o presidente da Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal (AIMMP), Vítor Poças, em entrevista à Lusa, no Dubai.
A AIMMP encontra-se atualmente numa missão empresarial no Dubai, entre 30 de maio e 03 de junho, na qual participam 25 empresas portuguesas do setor, para apresentarem os seus produtos naquele “importante mercado dos Emirados Árabes Unidos”.
Segundo o responsável, as empresas do setor veem-se obrigadas a importar matéria-prima, sobretudo a outros países da Europa e aos Estados Unidos da América, designadamente madeiras de qualidade, como o carvalho, a cerejeira, o castanheiro, ou a nogueira.
“Há sítios em Portugal que já arderam sete vezes, o que é uma vergonha, não se consegue compreender como é que isso acontece”, apontou Vítor Poças.
“É preciso que o Governo tome em atenção medidas para a nossa floresta, porque a nossa indústria de base florestal é altamente superavitária entre as exportações e as importações e, portanto, é muito importante que, de uma vez por todas, se façam os chamados acessos primários, que se façam os caminhos florestais, […] que facilitaria a exploração, seria mais barata, facilitaria os acessos aos carros bombeiros, […] podiam também facilitar o combate ao crime e a vigilância”, acrescentou o presidente da AIMMP.
Para o responsável, urge também proceder a um “parcelamento florestal”, uma vez que a floresta portuguesa é reduzida e as unidades de exploração não são viáveis para promover uma exploração florestal profissional, quer em termos de gestão, quer em termos de escolha de espécies de árvores.
Vítor Poças apontou ainda outros problemas que as empresas do setor da madeira e do mobiliário portuguesas sentem na sua atividade, como o “défice de licenciamento”.
“Mais de 50% das empresas, em Portugal, deste setor, não tem licenciamento industrial, o que eu acho que é muito penoso, porque depois acabam por ter dificuldades no acesso aos fundos comunitários”, afirmou.
O presidente da AIMMP considerou importante que o Governo apostasse em parcerias com as câmaras municipais para o licenciamento deste tipo de empresas, bem como para a criação de zonas industriais, financiando também a deslocalização para aquelas zonas e promovendo sinergias entre as empresas, para que possam tirar partido das vantagens umas das outras.
Outro obstáculo à atividade do setor prende-se com o acesso ao financiamento bancário, que é “realmente complicado”, uma vez que grande parte das empresas são de pequena dimensão.
“A banca está hoje muito instrumentalizada – os departamentos de risco – para fazerem análises dos balanços e da demonstração de resultados, […] e depois não atendem a questões que são fundamentais, que é perceberem a seriedade do empresário, se ele tem colaterais para dar como garantias ou não, se o negócio dele é viável, se efetivamente o homem tem capacidade de gestão e governação para fazer crescer aquela empresa”, apontou Vítor Poças.
“Se somar a isso o acesso ao licenciamento, as empresas estão vetadas pelos dois lados. Por um lado, pelo financiamento na banca, por outro, pelo financiamento comunitário ou público dos seus projetos”, sublinhou.
A AIMMP é uma associação empresarial fundada em 1957, sem fins lucrativos de interesse público, com a missão de representar, defender, apoiar e promover a Indústria Portuguesa da Madeira e do Mobiliário, nomeadamente promover a internacionalização do setor.
*** a Lusa viajou para o Dubai a convite da AIMMP ***
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