O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, admitiu este domingo no Algarve que a pandemia afetou a prevenção dos incêndios, tornando as condições de combate “difíceis”. O ministro da Administração Interna não liga os dois fatores: “O ordenamento é tarefa de todos e demorará anos”
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, admitiu este domingo no Algarve que a pandemia afetou a prevenção dos incêndios, tornando as condições de combate “difíceis”, sobretudo por se tratar de um verão muito quente. “Quanto à prevenção, ela sofreu, há que dizer, de facto, sofreu com a pandemia. Os meses que eram meses cruciais da transição da primavera para o verão foram meses acabados por não existir”, disse aos jornalistas durante uma visita ao lar de idosos da Santa Casa da Misericórdia de Boliqueime, em Loulé, no distrito de Faro.
O facto de as pessoas não poderem sair, devido ao confinamento, ou estarem muito limitadas entre março e junho, acabou por ser “uma limitação, que obriga agora que o combate seja um combate, esperemos que à altura do que tem sido, mas em condições difíceis”, acrescentou.
“Até agora o que se pode dizer é que, na generalidade dos casos, houve capacidade de resposta, sobretudo nos grandes casos, nos grandes fogos”, notou, lamentando o “azar” da morte de dois bombeiros no terreno, um num acidente de viação e outro devido a um ataque cardíaco.
O ministro da Administração Interna destacou hoje o “grande nível de profissionalismo” do sistema de combate a incêndios, com mais de 2.200 fogos registados em julho, considerando que “é um combate de todos os portugueses”, inclusive no ordenamento florestal.
Ministro diz que “está a ser feito”, mas “levará anos”
Também este domingo, o ministro da Administração Interna não ligou a pandemia às dificuldades do combate. “O ordenamento florestal é uma responsabilidade de todos os portugueses e tem a ver com uma dimensão de transformação da floresta que tem de ser prosseguida todos os dias e levará a anos de intervenção. Essa é a prioridade”, declarou Eduardo Cabrita, no final de uma reunião do Centro de Coordenação Operacional Nacional (CCON), na sede da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), em Carnaxide, concelho de Oeiras, distrito de Lisboa.
O ministro da Administração Interna respondia a questões sobre as declarações do presidente da Câmara Municipal de Oleiros, Fernando Jorge, que disse que o incêndio que deflagrou no sábado neste concelho do distrito de Castelo Branco está a arder numa área que foi atingida pelo fogo de 2003, que, entretanto, “cresceu desordenadamente e estava já um pinhal denso e forte”. Na perspetiva de Eduardo Cabrita, o ordenamento florestal “é o grande desafio”, indicando que, neste momento, a situação está “verdadeiramente na última linha da resposta e a prioridade, essa, é o combate”.
“Mas digo sempre, ao longo de todo o ano, que o desafio essencial – e está a ser feito – é a mudança da floresta, é a responsabilidade de todos, dos proprietários, dos agentes que atuam na floresta e, por isso, é o combate que tem de ser feito ao longo do ano, não é certamente nesta altura”, afirmou o titular da pasta da Administração Interna.
O fogo que deflagrou no sábado em Oleiros e alastrou aos concelhos vizinhos de Sertã e Proença-a-Nova, no distrito de Castelo Branco, está a ser hoje combatido por mais de 700 operacionais, apoiados por 14 meios aéreos e oito máquinas de rasto, informou o ministro da Administração Interna, em declarações aos jornalistas, ressalvando que, “neste momento, a prioridade é para o combate e para a defesa da segurança das populações”.
“É essa a razão por que costumo dizer, entre outubro e o verão seguinte, que este tema tem de continuar, o cadastro é essencial à atuação responsável de todos os proprietários florestais, que é decisiva, sendo que há intervenções que assumiram prioridade, mas que não têm resultados numa dimensão de curto prazo”, indicou Eduardo Cabrita.
Neste âmbito, o governante manifestou “solidariedade com o grande nível de profissionalismo e de resposta de todo o sistema”.
“Só isso tem permitido que, com mais de 2.200 incêndios no mês de julho, com condições meteorológicas muito difíceis há cerca de 10 dias, até hoje só soldados da paz tenham sido vítimas naquilo que são combates terríveis em que estão na primeira linha. Mas este é um combate de todos os portugueses”, avançou o ministro da Administração Interna, lembrando, assim, a morte de três bombeiros durante este ano no âmbito do combate a incêndios.
De acordo com Eduardo Cabrita, há registo, nos últimos dias, de uma dimensão “muito significativa” de incêndios rurais, com “uma média de 120 incêndios por dia ao longo deste mês de julho, sobretudo nos últimos 10 dias”.
No sábado, registaram-se “123 incêndios, com a participação de 4.400 operacionais e com 103 intervenções de meios aéreos”, revelou o governante, acrescentando que houve “incêndios de dimensão significativa, dois em Ponte de Lima, um em Vinhais, outro em Vila Flor, que foram todos dominados ao final do dia ou durante a noite”.
Neste sentido, o ministro realçou a capacidade operacional, relativamente aos mais de 2.000 incêndios que se verificaram já durante o mês de julho, que tem permitido “um empenho muito elevado do dispositivo, uma resposta imediata”.
“O que é fundamental, nestas circunstâncias, é exatamente o reconhecimento deste papel que justifica todo o investimento que deve ser feito na prevenção, para que se possa recorrer menos ao combate”, sustentou Eduardo Cabrita.