[Fonte: Expresso]
No ano em que a cultura de cereais atingiu o mínimo histórico, os produtores uniram-se e convenceram a indústria de que o que se faz em Portugal pode ser pouco, mas é de elevada qualidade. A marca Nacional, que já tem 165 anos, acreditou e fez massa com cereais do Alentejo.
Está já no mercado a primeira marca de massas alimentícias 100% nacionais, feitas à base de cereais exclusivamente alentejanos.
Uma edição limitada da Nacional que foi buscar trigo duro especialmente selecionado às searas de Brinches, Beja, Beringel, Ferreira do Alentejo e Elvas.
Na verdade, os pacotes de massas linguine e gemelli, em que a Nacional colocou a sub-marca ‘Alentejo’, são o resultado de 20 de investigação e organização de produtores, em estreita colaboação com o Politécnico de Beja e com o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária.
“Começámos a pensar nisto ainda durante o primeiro governo de Cavaco Silva. Estamos a falar dos anos oitenta. Mas a organização mais sistematizada deste trabalho começou há 20 anos. É verdade que os alentejanos são lentos, mas isto também era nada fácil, pois nós, os produtores de cereais, não temos o hábito de nos juntarmos para trabalhar”, explica Fernando Carpinteiro Albino, promotor da marca Cereais do Alentejo.
UM PASSO EM FRENTE EM ANO DE QUEBRAS HISTÓRICAS
Este passo em frente, na ligação entre a produção e a indústria, surge num momento em que a produção de cereais em Portugal bateu no fundo. Os últimos números do Instituto Nacional de Estatística revelam que este é já o quinto ano consecutivo de diminuição da área semeada, prevendo-se que nesta campanha se atinja um mínimo histórico de 121 mil hectares, a menor área dos últimos cem anos (desde que existem registos sistemáticos).
“Mas o lançamento destas massas, com cereais alentejanos, podem ser o ponto de viragem. Este é um dia muito importante para a produção”, enfatizou ainda Carpinteiro Albino, no evento ontem realizado ao final da tarde no Convento do Beato, em Lisboa.
Capoulas Santos, ministro da Agricultura, também marcou presença para lembrar que está para breve a aprovação da Estratégia Nacional para os Cereais, em Conselho de Ministros. Um documento que não é mais que a cobertura institucional e política a um dos sectores que tem vindo a perder relevância no panorama agrícola nacional.
Carpinteiro Albino lembrou ao ministro que a adesão de Portugal à União Europeia (na altura ainda CEE) teve efeitos muito maus nos cereais. “Aliás, até a última reforma da Política Agrícola Comum (PAC) foi altamente prejudicial para nós”.
É ‘REVOLTANTE’ TER DE IMPORTAR PÃO
O representante da marca Cereais do Alentejo – que é também um dos maiores produtores nacionais – lamenta que “isto de viver num país que tem de andar a importar pão e massas revolta-me profundamente, mas isto a que agora estamos a assistir é um sinal de esperança”.
Rui Amorim de Sousa, presidente executivo da Cerealis – empresa que detém a marca Nacional – disse que há uma recetividade extraordinária do mercado e dos clientes a este novo produto 100% alentejano. Lembra que “a cadeia de distribuição reconheceu o simbolismo e o valor acrescentado, garantindo assim a presença destas duas variedades de massas Nacional Alentejo na maioria das lojas do retalho alimentar em Portugal”.
CEREALIS VENDE ALIMENTOS NOS CINCO CONTINENTES
O mesmo responsável acrescenta ainda que, “ninguém melhor do que a Nacional poderia dar corpo a este ambicioso e simbólico projeto. Uma marca Portuguesa com uma longa e riquíssima história que, uma vez mais, promove o que de melhor se faz no nosso país.”
A Cerealis tem um volume de negócios anual da ordem dos 200 milhões de euros. Processa 440 mil toneladas de cereais todos os anos, para fazer mais de 160 produtos que distribui por 3000 clientes nos cinco continentes. Aliás, 25% da sua produção segue para o estrangeiro. Emprega 700 pessoas em cinco unidades de produção. A empresa não só transforma como, depois, comercializa os seus produtos alimentares à base de cereais.
Neste momento, e ainda segundo o seu presidente, a Cerealis tem em curso um investimento na República Checa que, assegura, “pode ser o embrião da nossa estratégia de internacionalização em termos de atividade transformadora”.