O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, considerou hoje que a dimensão e consequências dos incêndios no país resultam de cortes nos serviços e estruturas públicas e da privatização de setores estratégicos, propondo mais investimento no interior.
“O país está a arder não é porque tem estruturas públicas a mais, não é porque tem planeamento a mais, não é porque tem investimento público a mais. O país arde com as consequências e dimensão como está a arder, porque a regra de ouro é cortar nos serviços públicos, liberalizar e privatizar setores estratégicos, servir os grandes interesses e negociatas”, afirmou.
Paulo Raimundo intervinha na apresentação do livro “As privatizações. Contornos de um processo que é preciso reverter”, das Edições Avante!, que decorreu na Biblioteca Palácio Galveias, em Lisboa.
O secretário-geral comunista questionou se “o país está ou não disponível para investir no seu território, no seu interior, na sua floresta, nessa grande riqueza, na sua coesão, pelo menos aquilo que gastou no buraco das negociatas privadas” e nos “buracos da banca privada”.
“Esta é a opção que se tem que fazer: ou se recupera o país, ou se salva e dá-se condições financeiras aos grupos económicos”, afirmou, indicando que o PCP quer “recuperar o país para fortalecer o território, para alargar a capacidade de resposta e resolver o problema das pessoas”.
Paulo Raimundo considerou que “a liberalização afastou o investimento do interior e concentrou-o no litoral, afastou o investimento das aldeias e concentrou-o nas sedes de concelho”, e também “as estruturas relacionadas com a agricultura e com as florestas”, deixando o país “inclinado, mais frágil e mais desprotegido”.
O líder comunista defendeu que os incêndios estão relacionados com o “despovoamento e abandono do interior”, com o “corte nas estruturas do Estado, boicote à ação das empresas públicas ou privatização dos setores estratégicos”, e também com as “opções políticas ao serviço dos grandes interesses”.
“Quando olhamos para a floresta e para os problemas que atingem, é impossível não ver a ação das grandes empresas e dos grupos económicos privados. São estas que determinam e impõem o preço da madeira, apropriam-se da maioria dos apoios públicos ao setor da floresta, impõem as monoculturas, fazem com que milhares de pequenos produtores florestais abandonem as suas propriedades com as consequências que assistimos”, criticou.
Raimundo lamentou também que o Estado não detenha os meios aéreos de combate aos incêndios, argumentando que “só desde o início de 2024, o país já gastou 338 milhões de euros em alugueres de meios aéreos para o combate aos incêndios”.
“Recursos públicos para financiar grupos económicos, em vez de criar as respostas operacionais que o país precisa e precisa de forma permanente”, criticou.
O secretário-geral do PCP abordou ainda a intenção do Governo em privatizar parcialmente a TAP e indicou que o partido fará “tudo para interromper mais este crime económico”, numa alusão à apreciação parlamentar requerida pelos deputados do PCP, Livre e BE.
Na sua intervenção, Paulo Raimundo apelidou ainda o Governo de uma “agência de negócios para o grande capital”.
“Este é o governo da política PCL – privatizar, concessionar, liberalizar – e por cada passo desta política PCL, por cada concessão, por cada privatização, por cada liberalização, é mais um ataque aos trabalhadores, ao povo, à juventude e ao país”, sustentou.