O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, disse hoje, na Guarda, que “nem sempre quem está em situações de sufoco é capaz de perceber a importância de responder e esclarecer” a opinião pública.
Marcelo Rebelo de Sousa falava aos jornalistas no final do funeral do antigo autarca de Vila Franca do Deão, no concelho da Guarda, que morreu a combater um incêndio.
O chefe do Estado referia-se à falta de esclarecimentos da ministra da Administração Interna (MAI), Maria Lúcia Amaral, sobre os problemas operacionais sentidos no combate aos incêndios este verão.
A governante também marcou presença nas cerimónias fúnebres de Carlos Dâmaso, de 43 anos, que morreu na sexta-feira enquanto combatia um fogo junto à aldeia natal.
Entre a multidão esteve ainda Eurico Brilhante Dias, em representação do secretário-geral do PS, José Luís Carneiro, mas sem prestar declarações, e o presidente da Câmara Municipal da Guarda, Sérgio Costa.
O funeral decorreu sem protestos, ao contrário do que aconteceu na Covilhã, durante a manhã, onde o primeiro-ministro foi apupado pelos populares.
“Nos primeiros anos como Presidente ouvi coisas ainda muito mais violentas do que nestes últimos anos, porque o Presidente da República era, em teoria, responsável por tudo o que acontece no país”, começou por recordar Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas.
Para o chefe de Estado, no Governo é a mesma coisa.
“É natural que as pessoas queiram respostas imediatas, mas admito que quem acaba de chegar há dois meses esteja a descobrir os problemas e as respostas a dar”, afirmou.
Marcelo Rebelo de Sousa acrescentou que “também se aprende a dar respostas”, no entanto, “nem sempre quem está em situações de sufoco é capaz de perceber a importância da comunicação social e responder em conformidade”.
Quanto aos problemas operacionais sentidos na última semana, considerou que “a reflexão é inevitável” e que deve ser feita por todos.
“São muitas, muitas, muitas as instituições que estão a trabalhar em conjunto, é um esforço muito grande, mas certamente chegaremos a conclusões de como trabalhar em conjunto. Relativamente a 2017 e a Pedrógão, aprendeu-se uma parte, mas ainda se vai aprender muito mais”, declarou.
Dessa “grande reflexão” houve mudanças, mas oito anos depois a conclusão a que se poderá chegar é que “não foram suficientes e que há coisas em que é preciso ir mais fundo”.
O Presidente da República fez questão de lembrar que, até agora, tem tido “o cuidado de ouvir e não falar muito” porque ainda há fogos em curso no país, mas admitiu partilhar do apelo feito pelo presidente da Câmara da Guarda, Sérgio Costa, que pediu um pacto de regime contra os fogos.
“É fundamental que todos façam o melhor em conjunto para encontrar um sistema que vá aprendendo com as lições, e já há muitas lições que podemos aprender”, assegurou.
E exemplificou, dizendo que se aprendeu que “era importante preservar o mais possível vidas humanas e evitar os mortos e os feridos que houve em 2017, mas, infelizmente, há exceções dramáticas”.
Da tragédia de Pedrógão, o país também aprendeu que é preciso prevenir mais, “mas isso significa que é preciso trabalhar mais ao longo de todo o ano”, acrescentou.
“Aprendeu-se uma parte, até agora, felizmente, não tivemos 100 mortos, mas basta haver um morto, nas circunstâncias como esta, para fazer refletir no sistema e para o futuro”.
Marcelo Rebelo de Sousa adiantou que todos concordam que, terminada esta época de incêndios, “há reflexões a fazer, porque se aprende, e há coisas a mudar e a melhorar para que isto não se repita”.
“Portanto, não é este o tempo ainda – ainda hoje acabei de saber que há operacionais em estado grave na sequência do incêndio do Sabugal – passada esta fase, é evidente que é fundamental refletir”, afirmou.
O chefe do Estado revelou que, nos seus mandatos, “as coisas mais dolorosas” que viveu foram a pandemia e os fogos “em 2016, depois 2017, que foi horrível, 2018 e 2019”.