A Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF) mostrou-se hoje disponível para integrar a Madeira no plano nacional de combate aos incêndios e solicitar ajuda norte-americana para apoiar nas consequências florestais do fogo.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da AGIF adiantou que em fevereiro de 2020 as autoridades da Madeira foram convidadas a integrar o Plano Nacional de Gestão de Fogos, que recusaram para que a região continuasse a ter o “seu próprio planeamento e processo” de trabalho.
“A disponibilidade existe. Está sempre em aberto. Temos sempre interesse. E até temos interesse e vontade que a Madeira olhe para as metodologias que fomos desenvolvendo no continente”, adiantou Tiago Oliveira, a propósito de uma eventual integração da Madeira naquele plano.
O responsável pelo instituto público lembrou que a Madeira também decidiu não aplicar a legislação que regula o Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais e afirmou que integração da região no plano nacional permitiria “encontrar soluções e adotar métodos internacionalmente aceites para gerir e governar o risco de incêndio”.
Tiago Oliveira alertou que a região deve estabelecer várias intervenções ao nível dos solos e da gestão florestal devido às consequências do incêndio que lavra na ilha desde 14 de agosto.
O presidente da AGIF recordou que em 2022, após o incêndio na Serra da Estrela, os Estados Unidos apoiaram as autoridades nacionais e locais em “todo o trabalho” de recuperação do território, uma situação que poderia ser replicada na Madeira.
“Foi muito útil. Temos um protocolo com os serviços florestais americanos e com a Califórnia. Se houver interesse da Madeira, podemos solicitar essa ajuda aos Estados Unidos e ver se têm uma equipa disponível para apoiar a Madeira nestes trabalhos. Seria interessante”, sugeriu.
O especialista em gestão de risco de incêndios florestais defendeu que é necessário “consolidar os taludes” na ilha, através de processos de “estabilização de emergência”.
Segundo disse, é preciso impedir que no inverno aconteçam deslizamentos de rochas com enxurradas a partir dos “solos que tiveram com maiores temperaturas”.
“É necessário fazer um mapa da severidade do comportamento do fogo e nos sítios de maior pendente fazer construções e consolidações que impeçam o ravinamento do solo”, defendeu, acrescentando que esta é uma “boa altura” para arrancar com os trabalhos porque permite um “mês e meio de trabalho com afinco” até às primeiras chuvas em outubro.
O presidente da AGIF também destacou a importância de reintroduzir espécies autóctones e impedir a propagação das invasoras durante a reabilitação da vegetação.
“A solução para os incêndios não passa por ter meios aéreos. Passa por gerir a população, gerir a vegetação e preparar as instituições com formação e processos de trabalho”, defendeu.
O incêndio rural na ilha da Madeira deflagrou a 14 de agosto nas serras do município da Ribeira Brava, propagando-se progressivamente aos concelhos de Câmara de Lobos, Ponta do Sol e Santana. Hoje de manhã, ao 11.º dia, a Proteção Civil regional indicou que o fogo está controlado e que os operacionais se mantêm no terreno em operações de rescaldo, controlando alguns pontos quentes.
Nestes dias as autoridades deram indicação a perto de 200 pessoas para saírem das suas habitações por precaução e disponibilizaram equipamentos públicos de acolhimento, mas muitos moradores foram regressando a casa.