Fonte: [Diário de Notícias]
A Confederação Nacional de Agricultura (CNA) alertou hoje que a agricultura ficou ainda mais fragilizada e a floresta comporta mais riscos nos territórios afetados pelos grandes fogos de outubro de 2017.
“Na parte agrícola, o drama persiste”, afirma o membro da direção do CNA João Dinis, que falava à agência Lusa após uma visita realizada hoje a uma zona fortemente afetada pelos fogos de outubro, em Penacova, distrito de Coimbra.
João Dinis sublinha que há muitos pequenos agricultores que ficaram excluídos do processo de apoio outros tantos que receberam cortes nos apoios até cinco mil euros e, nas candidaturas de maior valor, já se contabilizam “dezenas de desistências”, face aos apoios concedidos.
“Os cortes aplicados nas candidaturas e as complicações nos processos têm levado a desistências. São pessoas que perderam os seus rendimentos e não têm capacidade financeira para garantir” a sua parte para pagar a reposição do que perderam, explica.
Para além disso, nota, ainda há candidaturas que foram reformuladas que continuam à espera de uma decisão por parte do Ministério da Agricultura.
Segundo João Dinis, a forma como o processo foi conduzido, com cortes nos apoios e uma diferença de tratamento em relação ao apoio às empresas, leva os agricultores a saírem de atividade, num setor por si só já fragilizado.
A somar a um abandono das terras, o dirigente da CNA sublinha que “grande parte da madeira ardida permanece ao alto, nas matas” e os pinhais que não arderam estão a morrer vítimas de pragas.
“A floresta hoje está pior do que estava a seguir ao fogo. Sem agricultura, com uma floresta desacompanhada, estão agora a ser plantados os próximos grandes incêndios da nossa região”, protestou.
Durante a visita realizada hoje à tarde, a CNA também constatou que o processo de reconstrução das primeiras habitações está muito atrasado.
“Falámos com pessoas que vão passar o segundo natal sem terem a sua casa reconstruída. Pudemos constatar realidades que contrariam e desmentem a propaganda oficial. Lamentavelmente, as habitações ardidas estão por reconstruir”, criticou.
Um ano depois, a região está “sem árvores, sem casas reconstruídas e com a agricultura ainda mais fragilizada”, resumiu João Dinis.
Mais de 100 pessoas morreram o ano passado nos incêndios que atingiram a região Centro, em junho e outubro, que provocaram ainda a destruição de centenas de habitações e dezenas de empresas