Mais de cinco mil dos seis mil hectares do Parque das Serras do Porto estão a partir de hoje cobertos por quatro câmaras óticas com alcance de 10 quilómetros e capazes de detetar fogo na escuridão.
A descrição dos novos equipamentos que vão ser hoje apresentados em Paredes foi feita à Lusa por dois dos responsáveis do projeto tecnológico rePLANT, Carlos Fonseca, Diretor Científico e Tecnológico do CoLAB ForestWISE, e Xavier Viegas, responsável pelo projeto das câmaras óticas e do simulador de incêndios, da Universidade de Coimbra.
Composto por seis serras – Santa Justa, Pias, Castiçal, Santa Iria, Flores e Banjas – o parque abrange os municípios de Gondomar, Paredes e Valongo, na Área Metropolitana do Porto e tem uma extensão de quase 6.000 hectares, uma área que passará a estar sob vigilância do projeto rePLANT.
Segundo Carlos Fonseca, são quatro câmaras que abrangem 5,1 mil hectares, ou seja, 85% do território. As câmaras têm um alcance de 10 quilómetros e funcionam em 360 graus 24 horas por dia.
“A ideia será densificar a rede com a instalação de mais câmaras, mas também melhorar ao nível do ‘software’ e algoritmos que nos permitam depois obter informação mais fina e mais rigorosa”, acrescentou o também coordenador do projeto, explicando que as intervenções “localizam-se, fundamentalmente, nas faixas de gestão de combustível sob a responsabilidade da REN [Redes Energéticas Nacionais], cujas linhas de muita alta tensão cruzam os seis mil hectares”.
Sobre essas faixas disse terem “45 metros de largura e muitas dezenas de quilómetros de comprimento”.
Para Xavier Viegas, as quatro câmaras, geridas pela GNR, estão instaladas nos postes da REN e são um complemento aos sistemas de vigilância que já existem, funcionando, também, como “efeito dissuasor”
“Para além disso, e para mim mais importante, é que têm um efeito de dissuasão (…), podendo servir de inibidor da ação de descuido e de fogo doloso porque, no limite, as câmaras podem não apenas localizar a origem do fogo como também o relacionar com a movimentação de pessoas e de viaturas, assim conduzindo ao autor do foco de incêndio”, enfatizou o especialista da Universidade de Coimbra.
Sobre outras mais-valias das câmaras, vincou serem “também importantes no acompanhamento dos incêndios, porque se houver uma ocorrência as imagens permitem ver as chamas no escuro da noite”.
Xavier Viegas destacou ainda que o projeto “envolve muita tecnologia, máquinas e equipamentos que permitem, em boa parte, suprir a falta de recursos humanos, a falta da presença de pessoas nos ambientes rurais (…) bem como gerir dados e substituir tarefas rotineiras e, nalguns casos, até perigosas, libertando pessoas para outras tarefas também necessárias e certamente mais nobres”.
Sobre outra das inovações, o simulador de incêndios, disse ser um sistema informático que recebe informação sobre “ambiente, geografia, topografia coberta vegetal, as condições meteorológicas e a localização do incêndio, assim ajudando os bombeiros no combate às chamas (…) estimando onde é que a intervenção pode ser mais segura, atendendo à energia que é libertada pelo fogo, se a área é compatível com o combate ao fogo e ainda estimar qual vai ser o eventual sucesso, entre outros cenários”.
O presidente da Câmara de Paredes e, em 2023, da Associação Parques das Serras do Porto, Alexandre Almeida, destacou à Lusa a “sorte de ter três companhias privadas, a Sonae Arauco, a REN e Navigator, que são proprietários de parte dos seis mil hectares do Parque das Serras, com os mesmos interesses na gestão do território”.
“Foram introduzidas inovações tecnológicas, como é o caso dos robôs, que vão fazer a limpeza da floresta, das câmaras e das aplicações móveis para gerir a evolução das novas espécies plantadas, que contribuem para o grande desígnio de colocar o Parque das Serras à disposição da população”, descreveu o responsável do Parque.