Especialista diz que fogo, que mesmo assim já é o maior de 2020, podia ter sido muito pior.
Boa parte do incêndio de Oleiros, o maior fogo deste ano em Portugal, parou em áreas ardidas nos últimos anos, sobretudo nos muitos incêndios que queimaram a região Centro em 2017.
A conclusão é de Paulo Fernandes, membro do Observatório Técnico Independente dos incêndios florestais nomeado pelo Parlamento e professor na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), que cruzou os mapas das diferentes áreas ardidas em 2017, 2019 e agora 2020, para perceber a evolução deste fogo que durou o último fim de semana, matando um bombeiro e deixando dois outros feridos com gravidade.
O especialista admite que as consequências deste fogo podiam ter sido muito piores se sobretudo no início as chamas não tivessem encontrado zona que já estão muito ardidas.
“Claramente, incêndios que ganham estas proporções em condições meteorológicas deste tipo, com vento, tempo quente, ar seco e paisagens com tanta continuidade de floresta e de áreas de matos significam que enquanto houver vegetação, combustível para consumir e a meteorologia não mudar podem sempre ir crescendo, sendo cada vez mais difíceis de combater”, detalha em declarações à TSF.
Desta vez houve um fator “decisivo”, afirma, que no ano passado já se tinha verificado em grandes incêndios, por exemplo num fogo de 2019 em Vila de Rei.
“O mesmo sucedeu agora onde todo o setor Oeste e Noroeste no fogo de Oleiros encontrou áreas queimadas pelos grandes incêndios de 2017 e por um incêndio mais pequeno de 2019, contribuindo bastante para restringir a propagação no primeiro dia e talvez durante a manhã do segundo. Caso contrário teria sido um incêndio certamente maior e que teria durado mais tempo”, refere o professor da UTAD e investigador do Centro de Investigação e Tecnologias Agroambientais e Biológicas.
Pelas contas da proteção civil nacional e do Sistema Europeu de Informação de Fogos Florestais (EFFIS) este incêndio em Oleiros queimou cerca de 6 mil hectares. Ou seja, quase três vezes mais que os outros dois maiores incêndios de 2020.
Segundo o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), até Oleiros o fogo com mais área ardida em 2020 tinha atingido Castro Verde, no distrito de Beja, a 13 de julho. Arderam 2.300 hectares, sendo mesmo atingido “o coração” da Reserva da Biosfera da Unesco.
O segundo fogo que até agora se seguia na lista era aquele que a meio de junho atingiu o Algarve, mais precisamente o concelho de Aljezur, com 2.230 hectares queimados.