O analista social e professor aniversário Santos Fernandes considera ser “um paradoxo” que a Guiné-Bissau continue a importar anualmente mais de 100 mil toneladas do arroz, base da dieta alimentar do país, apesar de todo o seu potencial agrário.
Numa análise enviada à agência Lusa, Fernandes, mestre em economia, formado no Brasil, cita dados do ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural guineense, para referir que o país dispõe de 1.410.000 hectares de terra arável.
“O que (..) não deixa de ser um paradoxo, constatamos que a Guiné-Bissau, não obstante enorme potencial agrícola, continua a importar mais de 100 mil toneladas de arroz por ano”, referiu o analista.
Santos Fernandes faz a análise na sequência da 15.ª cimeira de chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), realizada em Bissau, sob o lema: “CPLP e a soberania alimentar: um caminho para o desenvolvimento sustentável”.
O lema escolhido pelas autoridades guineenses tem como propósito reforçar o papel da agricultura familiar, promover sistemas alimentares resilientes e fortalecer os laços económicos e sociais entre os Estados-membros.
“Ora, este encontro dos países lusófonos não podia ter lugar no melhor momento, em Bissau. De igual forma, a escolha do lema não podia ter sido mais feliz”, observa Santos Fernandes.
O professor universitário refere que o potencial agrário da Guiné-Bissau consiste no facto de o país ter registado um aumento de terras aráveis de 6.209 quilómetros quadrados em 1995 para 8.151 quilómetros quadrados em 2018, mais 31,3%.
O analista nota ainda que de 2015 para 2018, o valor da aquisição da terra diminuiu na Guiné-Bissau, mas que a atividade agrícola é praticada por aproximadamente 120.000 pequenos produtores em aldeias, em áreas que variam de 0,25 a dois hectares, que representam 90% da produção nacional.
Citando dados da chamada Nota de Diagnóstico da Guiné-Bissau, do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), Santos Fernandes realça que a agricultura comercial representa 10% da produção e é praticada por 1.200 “ponteiros”, agricultores modernos com grandes concessões de terras.
Ainda citando o mesmo documento, o analista destaca que a floresta representa a maior parcela do capital natural da Guiné-Bissau, 65%, e que a cobertura florestal total foi estimada em 1,98 milhão de hectares em 2020, ou seja, 55% da área terrestre do país é composta principalmente por florestas primárias.
Santos Fernandes defende, contudo, que se regista um declínio anual na área florestal: de 30% nas florestas húmidas densas da região de Tombali, no sul, de 57% nas florestas de savana de Bafatá, no leste, e na ordem de 19% nas florestas e mangues nas regiões de Oio, norte, e Gabu, leste.
“No geral, a cobertura florestal diminuiu 5.075,1 hectares”, refere o analista, citando dados do Banco Mundial, que apontam o desmatamento, as pressões de agricultores sobre as florestas, a construção e o comércio como principais razões.